Conta o historiador José Pacheco Pereira que José Vilhena, que depois do 25 Abril ficou famoso pela revista Gaiola Aberta, era uma espécie de inimigo público número 1 do Portugal do respeitinho, aquele que a Censura ao serviço de Salazar e depois de Caetano era suposto defender e por isso tudo o que publicava era logo proibido. "O Vilhena encontrou um nicho de mercado que não existia em Portugal. Eram livros que tinham ao mesmo tempo um conteúdo de crítica social e política, mas que eram ilustrados com estas senhoras de ar capitoso, digamos assim. Portanto, eram livros contra os poderosos, contra a Igreja Católica, contra a moral sexual e compreende-se a fúria dos censores. Temos literalmente centenas de despachos da Censura e os mais furiosos são contra o Vilhena. O Vilhena é que realmente lhes toca as campainhas todas", explica o criador do Arquivo Ephemera, de onde são oriundos os materiais expostos de amanhã até dia 27 na galeria do edifício histórico do Diário de Notícias. "Há até este célebre cartoon, do Vilhena a provocar o censor do erótico, que está a ver um espetáculo para proibir mas que gosta de ver", acrescenta Pacheco Pereira, segurando um dos vários livros expostos, com títulos tão sugestivos como Julieta das Minhocas ou História universal da pulhice humana.