Foi o nosso embaixador no Brasil quem me deu a conhecer António Carrelhas, com 86 anos, metade deles a viver e a aventurar-se no outro lado do Atlântico. "É um português notável, cuja vida dava para três ou quatro filmes", disse-me Luís Faro Ramos. E depois de horas e horas a ouvir as aventuras de Carrelhas, na sua casa em Lisboa, só posso confirmar que aquilo que surge nesta entrevista é um mero resumo do muito que me foi contando, sempre com grande sentido de humor e consciente de que se a descida do Amazonas é uma coroa de glória, já a caçada ao elefante em Angola em 1974 pode ser hoje mal entendida. Jurista, gestor e aventureiro, foi assim que Carrelhas combinou comigo ser apresentado. Está agora de novo no Brasil e com um grupo de amigos vai recriar os chamados Caminhos da Independência, por exemplo, o percurso que fez D. Pedro entre São Paulo e o Rio de Janeiro a 7 de setembro de 1822 e durante o qual deu o famoso Grito do Ipiranga. No prefácio ao livro Cavalo Encilhado Não Passa Duas Vezes, um amigo dos tempos da Faculdade de Direito de Lisboa, o embaixador António Pinto da França, escreveu: "Tu demandas os santuários da natureza, mas não nos desvendas qual a misteriosa força, a razão última, que alimenta a tua incessante busca. Nem tu o saberás!"