Imagine-se um Ribatejo quase sem estradas e ainda sem a ponte de Vila de Franca de Xira, em que todo o transporte de pessoas e mercadorias era feito em barcaças Tejo abaixo, Tejo acima, ou em carros de bois. Um Ribatejo tão pobre e tão desprovido de tudo (eletricidade, saneamento, cuidados médicos...) que se tornaria o berço do neo-realismo português, inspirando autores como Soeiro Pereira Gomes e Alves Redol. Este último, homem de Vila Franca, mudar-se-ia durante uns meses para a aldeia da Glória do Ribatejo, dedicando-lhe um estudo etnográfico cheio de admiração pelo modo como os glorianos superavam todos os dias o esquecimento a que eram votados pelo poder central. Um esquecimento de tal maneira persistente que, mais de 15 anos e uma guerra mundial depois da publicação do livro de Redol (Glória, uma Aldeia do Ribatejo - Um ensaio etnográfico), os emissários do governo norte-americano, em busca de um lugar para tão singular empreendimento, mal podiam acreditar estar na Europa, a escassos 80 kms de Lisboa.