Sociedade
21 março 2023 às 15h29

Governo alerta que risco de incêndios aumentou cerca de 40% face a 2022

O ministro José Luís Carneiro admitiu que a União Europeia já começou a sensibilizar os países mediterrânicos para os riscos para o próximo verão, que se prevê bastante exigente.

DN/Lusa

O risco de incêndio em Portugal ao dia de hoje é cerca de 40% maior face a 2022, disse o ministro da Administração Interna, após uma reunião com a GNR, em Monte Redondo, no concelho de Leiria.

"Hoje pudemos ouvir da parte da GNR, que é quem tem uma base de dados que permite comparar vários indicadores, que à luz dos indicadores conhecidos ao dia de hoje o risco aumenta em cerca de 40% relativamente a 2022. A própria União Europeia já veio sensibilizar os países do mediterrâneo, [alertando] que os riscos este ano, comparativamente aos anos anteriores, são superiores", afirmou José Luís Carneiro.

O ministro da Administração Interna esteve no posto da GNR de Monte Redondo, onde ouviu as explicações dos militares sobre o estado do território nacional no momento em que decorre a Campanha Floresta Segura, que visa identificar os proprietários de terrenos que necessitam de limpeza, para prevenir os incêndios rurais.

José Luís Carneiro constatou, a seguir, in loco o trabalho da GNR na identificação dos terrenos em incumprimento, tendo experimentado o sistema utilizado pelos militares.

"A GNR está neste momento no terreno em todo o país a sensibilizar as autarquias e os proprietários para a necessidade de proceder às limpezas previstas na lei relativas à segurança do edificado", nomeadamente, "todas as áreas circundantes às habitações que devem ser objeto de limpeza", referiu.

O sargento ajudante da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro (UEPS), Rui Teixeira, explicou que na plataforma que a GNR possui é possível verificar os locais críticos "que dão incidência dos incêndios rurais desde 2020 até agora".

"Estamos com mais severidade a norte do país - Viana do Castelo e interior do Porto. Temos mais ignições em Montalegre e Vila Real, o que é já um histórico nesta fase do ano", precisou.

Respondendo a José Luís Carneiro, o militar revelou que "na carta de retorno, os 528.926 hectares ardidos em 2017 já estão com um nível muito alto de exposição".

"Seria fundamental o país garantir a resiliência dos aglomerados populacionais através da execução da rede secundária, já que 85% das ocorrências, das 10.958 de 2022, ocorreram a menos de 500 metros de infraestruturas, sejam ocupadas por pessoas ou ambiente empresarial", explicou o militar.

O ministro sublinhou, por isso, a importância de apostar na prevenção e na sensibilização de todos para a limpeza dos terrenos.

"No verão, quando somos confrontados com os incêndios, todos temos um sentimento que os meios são sempre limitados para o conjunto das necessidades do país. A GNR avançou com a campanha de sensibilização em fevereiro por todo o país, um trabalho de muito valor, que tem vindo a permitir maior conhecimento e maior capacidade para antever os riscos. Este é um dever coletivo", insistiu.

José Luís Carneiro lembrou que, "em 2022, a União Europeia teve mais de 60% dos incêndios rurais e florestais".

"Arderam mais de 69% em toda a União Europeia. Os riscos ultrapassaram todos os níveis: 30% de humidade, 30% de ventos, 30% de temperaturas", referiu.

O governante precisou: "em 2022 tivemos 47 graus, humidade abaixo de 10% e ventos acima de 60 quilómetros por hora, o que significa que os riscos de incêndio aumentaram muito exponencialmente".

"Este é um esforço de todos. Da administração central, do Governo, das autarquias, dos proprietários e individual de cada um de nós. É para esse objetivo e para essa sensibilização que hoje me encontro com a GNR. É importante que cada um cumpra a sua missão. Não chega, quando estamos confrontados com os incêndios, pedirem contas ao ministro da Administração Interna. É muito importante que todos contribuam para um país mais seguro", reforçou.

O ministro da Administração Interna disse hoje que os países europeus reconhecem que Portugal é um país qualificado ao nível do sistema de proteção civil.

"Os países europeus e outros países do mundo reconhecem que Portugal é um país qualificado. A Austrália manda cá investigadores conhecerem as nossas práticas. Ainda agora os portugueses que estiveram no Chile foram reconhecidos pelas autoridades chilenas pelo seu conhecimento e o mecanismo europeu de proteção civil não raras vezes reconhece as capacidades, as competências e a qualificação do nosso sistema", disse José Luís Carneiro.

"Devemos reconhecer as debilidades e as fragilidades, melhorá-las, ultrapassá-las, mas também devemos reconhecer a qualidade do nosso sistema nacional de proteção civil e a qualidade mede-se pela eficácia" do que se passou em 2022, adiantou.

José Luís Carneiro lembrou que "em mais de 90% das situações houve uma capacidade do sistema de proteção civil para debelar os incêndios até aos 90 minutos".

"Isso mostra eficácia do sistema", sublinhou, referindo, no entanto, que "vão ser introduzidas melhorias no sistema", tendo em conta "as lições aprendidas" em 2022.

O ministro acrescentou que é necessário "estar sempre a aprender, porque a realidade é mais complexa e não cabe nos modelos de ciência que são desenvolvidos".

Reconhecendo que as alterações climáticas influenciam o comportamento dos incêndios, José Luís Carneiro referiu as mortes dos cerca de 25 bombeiros e civis no Chile, país que "tem competências muito qualificadas".

"Mostra que os sistemas têm de se adaptar e evoluir permanentemente e mesmo com essa permanente evolução e adaptação as circunstâncias com que nos confrontamos são muito exigentes", alertou.

O ministro disse ainda que em setembro e outubro já iniciaram o trabalho de preparação da época de incêndios de 2023.

"Estive na União Europeia, onde procurei com outros países sensibilizar para a necessidade de reforçar os meios aéreos, humanos e terrestres de combate, antecipar a disponibilidade desses meios e preposicionar esses meios", informou.

Depois, acrescentou, foram realizados encontros com os autarcas no âmbito das comissões coordenadoras de desenvolvimento regional "para a importância de terem planos municipais de proteção civil e planos municipais de prevenção e defesa da floresta contra incêndios".

"É também um dever que deve estar cumprido pelos poderes locais", reforçou.