A ausência de "um excecionalismo de circunstâncias" que justifiquem a escolha de um embaixador político para a UNESCO levam a Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses (ASDP) a contestar a escolha de Sampaio da Nóvoa para o cargo.
Em comunicado enviado esta terça-feira ao DN, a ASDP argumenta que a representação de Portugal no exterior "deve assentar no exercício profissional do ofício diplomático, que se aprende e treina durante uma vida dedicada ao serviço público".
Assim, a escolha de Sampaio da Nóvoa - antigo reitor da Universidade de Lisboa e ex-candidato à Presidência da República - por parte do Governo "é motivo de completa surpresa e estranheza", pelo que a ASDP pede ao Governo "que reconsidere" aquela proposta.
A escolha de Sampaio da Nóvoa para representante permanente de Portugal junto da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) foi noticiada sexta-feira pelo jornal Público, com o académico a dizer ao DN que o papel da instituição em África constitui uma das suas principais prioridades no exercício do cargo.
A ASDP sublinha que a sua posição não assenta em "qualquer desconsideração pelo reconhecido mérito e experiência" de Sampaio da Nóvoa, tanto no plano académico como do seu "contributo para a causa pública e a vida política nacional".
Contudo, "não se considera que o valor demonstrado pela diplomacia portuguesa, cujo mérito tem vindo a ser tão evidente em sucessos dos últimos anos, possa ser suspenso pela nomeação de um embaixador político para um posto diplomático quando não há um excecionalismo de circunstâncias que o pudesse vir a tentar sustentar", defende a associação presidida pelo embaixador João Ramos Pinto.
A nomeação de Sampaio da Nóvoa para a UNESCO assinala a reabertura da representação permanente de Portugal junto da organização, encerrada durante o tempo da troika devido às dificuldades financeiras do país - sendo as responsabilidades assumidas pelo embaixador acreditado em França.
Com a eleição de Portugal para o Conselho Executivo da UNESCO, em novembro passado, o Governo considerou que a reabertura daquela embaixada era uma "consequência óbvia".
O chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos Silva, explicou depois as "três razões essenciais" da escolha de Sampaio da Nóvoa: ser "uma autoridade internacional numa das áreas fundamentais na missão da UNESCO" como é a Educação, o "combinar a sua experiência como académico e perito nas áreas da Educação e da Ciência" com a de "gestão e direção em instituições culturais, científicas e académicas" e, por fim, o conhecimento que o antigo reitor tem da atividade da UNESCO.
Esta opção por um embaixador político para a UNESCO (ou a OSCE, por exemplo) não é inédita, pois aquele cargo já foi exercido por figuras como Maria de Lurdes Pintassilgo, José Augusto Seabra e Manuel Maria Carrilho.