Uma frase de Jeroen Dijsselbloem numa entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung ("Como social-democrata, atribuo uma importância extraordinária à solidariedade. Mas também deve haver obrigações: não se pode gastar todo o dinheiro em copos e mulheres e depois pedir ajuda") deu ontem ao governo português o pretexto que faltava para pedir o afastamento do ministro holandês do grupo da UE que junta os países do euro, o Eurogrupo.
"Hoje, no Parlamento Europeu, muita gente entende que o presidente do Eurogrupo não tem condições para permanecer à frente do Eurogrupo e o governo português partilha dessa opinião", disse ontem em Washington o ministro português dos Negócios Estrangeiros. Para Augusto Santos Silva, as declarações do (ainda) ministro holandês das Finanças foram "muito infelizes e, do ponto de vista português, absolutamente inaceitáveis". "Há, por um lado, o aspeto de uma graçola que usa termos que hoje já não são concebíveis, essa ideia de gente que anda a gastar dinheiro com vinho e mulheres é uma forma de expressão que, com toda a certeza, não é própria de um ministro das Finanças europeu."
Da ofensiva socialista portuguesa contra Dijsselbloem fez parte também uma reação do PS. A secretária-geral adjunta do partido, Ana Catarina Mendes, enviou uma carta ao presidente do Partido Socialista Europeu (PES), Sergei Stanishev, em que pede que a organização anuncie desde já que não apoia uma eventual recandidatura de Dijsselbloem a presidente do Eurogrupo. "É agora evidente que alguém que partilha estas opiniões não reúne condições para exercer as funções de presidente do Eurogrupo. E o PSE deve retirar qualquer apoio político à sua candidatura", salientou Ana Catarina Mendes na mesma carta.
Dijsselbloem - note-se - integra o governo holandês como ministro das Finanças em representação do Partido Trabalhista, que faz parte da mesma família política europeia do PS português. Os trabalhistas holandeses saíram fortemente derrotados das legislativas do dia 15, tendo agora a mais pequena representação parlamentar da sua história (nove em 150 deputados). É portanto improvável que um futuro novo governo, ainda em processo de negociação, volte a incluir o partido do presidente do Eurogrupo.
Foi entre os socialistas europeus que se ouviram afirmações mais indignadas face ao que o ministro disse. A exigência de que Dijsselbloem deixe a presidência do Eurogrupo foi partilhada pelo líder dos socialistas no Parlamento Europeu. Dijsselbloem "não está apto para ser presidente do Eurogrupo", declarou o eurodeputado italiano Gianni Pittella. São declarações "vergonhosas e chocantes", afirmou.
Em Portugal, o Bloco de Esquerda também reagiu anunciando que vai levar ao Parlamento um voto de repúdio.
Os bloquistas consideraram as declarações "provocatórias, xenófobas e sexistas", acusando Dijsselbloem de "insultar todos os cidadãos do Sul da Europa e as suas instituições". Com estas afirmações, Djisselbloem mostra uma "visão preconceituosa e chauvinista sobre milhões de cidadãos".
Confrontando com as críticas, Jeroen Dijsselbloem manteve o que disse, garantindo que não irá pedir desculpas. Com Lusa