Jorge Sampaio lamentou este domingo o desaparecimento de José Cutileiro, apontando o "grande vazio" deixado pela morte do diplomata.
"Apesar da proximidade que o tratamento por tu cria entre as pessoas - e era o nosso caso -, sempre tive pelo Zé Cutileiro um enorme respeito e admiração pela pessoa de exceção que sempre mostrou ser, de par com uma amizade certa e que a vida de cada um de nós manteve intacta", lê-se na mensagem do ex-Presidente da República (1996-.
"O seu desaparecimento deixa um vazio grande e a saudade antecipada das suas crónicas, das suas palavras, dos sinais da sua presença entre nós", acrescenta o ex-chefe de Estado, numa mensagem enviada à agência Lusa.
Jorge Sampaio evoca a proximidade com o embaixador, forjada por terem ambos "pouco mais ou menos a mesma idade" e se conhecerem "de longuíssima data devido a laços familiares", ambos filhos de médicos, que "eram amigos e mantinham alguma proximidade".
"O José Cutileiro teve um percurso intelectual extremamente original, aliando uma formação científica e humanística que o definia de forma muito particular, com uma imensa cultura, grande independência de análise e juízo, um apurado sentido de humor e uma exigência de rigor que estava presente em tudo o que fazia ou dizia", afirma Sampaio.
Jorge Sampaio atribui a essas qualidades a decisão de Mário Soares de o encorajar "a abraçar a diplomacia", "na certeza de que esta e Portugal sairiam enriquecidos com o contributo de Cutileiro, uma intuição que não poderia ter sido mais certeira, como, de resto, viria a demonstrar a sua longa e muito relevante carreira".
"José Cutileiro foi um brilhantíssimo servidor da causa pública, tendo revelado altas qualidades de negociador em momentos importantes para a afirmação externa do país", afirma, evocando funções assumidas pelo embaixador na organização da Conferência para a Paz para a Jugoslávia (1992) e na liderança a União para a Europa Ocidental (1994-1999).
O ex-Presidente da República afirma ainda dever pessoalmente a Cutileiro tê-lo indicado, na qualidade de embaixador de Portugal junto do Conselho da Europa, nos anos 1970, para representar Portugal na Comissão Europeia Direitos Humanos daquela organização, "cargo de que muito me orgulho e que exerci com especial gosto".
José Cutileiro morreu hoje em Bruxelas, onde residia, aos 85 anos.