A candidatura do partido no poder às legislativas em São Tomé e Príncipe está a ser criticada pela participação de um famoso artista nigeriano num comício do líder da ADI, Patrice Trovoada, que já garantiu ter sido gratuita.
No sábado, a campanha da Ação Democrática Independente (ADI) promoveu um festival-comício em Trindade, segunda maior cidade de São Tomé, com a presença do chefe do Governo cessante, e que contou com a atuação de vários artistas, incluindo o nigeriano Davido, cantor de 25 anos considerado a estrela pop mais procurada por organizadores de evento em África.
"Pagou o Davido com dinheiro do povo. O país não tem arroz, não tem petróleo nem luz. ADI ruaaaaa", lê-se numa imagem publicada nas redes sociais, enquanto outro utilizador do Facebook afirmava que "o custo do Davido minimizava o problema da energia no país ou de falta de equipamentos no hospital".
No dia seguinte ao concerto em Trindade, um vendedor no mercado da capital queixava-se, à Lusa, da escassez de arroz no país, enquanto reclamava que, com o 'cachet' do artista nigeriano, o primeiro-ministro poderia ter comprado este bem essencial na alimentação dos são-tomenses.
De acordo com o Cara Cultura, uma revista cultural eletrónica moçambicana, Davido cobra 40 mil dólares (quase 35 mil euros) por espetáculo.
Esta segunda-feira, Patrice Trovoada esteve num "festival-comício" em Neves, distrito de Lembá (noroeste da ilha), com cantores nacionais e os internacionais Ricky Boy e Loony Johnson.
Um habitante da capital, João Adérito, defendeu a necessidade de se realizar "uma auditoria ao financiamento dos partidos durante as campanhas eleitorais", sublinhando que pode dar-se o caso de, caso "o partido ganhe, podemos estar a hipotecar o país para as próximas gerações".
Carlos Tiny, jovem militante do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MLSTP-PSD, maior partido da oposição), criticou: "A mesma pessoa que pede sacrifício ao povo, exigindo aperto de cintos é a que paga milhões a um músico para vir atuar numa campanha, quando temos sérios problemas no país".
Um jovem residente em São Marçal, periferia da capital, que se identifica com a ADI, defendeu por seu lado que "o mais importante não é a presença dos cantores famosos, mas sim o programa dos governos e as ideias políticas para o país".
Contactado pela Lusa, Wando Castro, secretário-geral adjunto do MLSTP-PSD, escusou-se a comentar o assunto, alegando que no passado o seu partido também recorreu a cantores estrangeiros para animar comícios em alturas de campanha eleitoral.
A Lusa tentou obter um comentário do gabinete de Patrice Trovoada, mas sem sucesso, até ao momento.
A produtora de eventos e responsável cultural e organizacional do partido ADI, Nina Torres, também utilizou as redes sociais para comentar a polémica.
"Davido veio dar uma força ao PT [Patrice Trovoada] a pedido de pessoas por quem ele tem muito respeito. Ele e o PT têm amigos e familiares em comum. Foi mesmo surpresa para todos nós, o próprio PT não tocou no assunto connosco até o avião descolar de Port Harcourt, Nigéria", disse.
"Davido cantou em condições técnicas e de segurança que lhe eram desconhecidas, e só o fez devido a amizade e confiança pessoal, nada que tivesse a ver com contratos", acrescentou.
"Acham mesmo que se o tivéssemos contratado seria assim? Acham mesmo que iríamos gastar dinheiro e não o aproveitar da melhor forma? Seria no mínimo para a abertura ou para o fecho da campanha, por favor respeitem ao menos a nossa inteligência!", afirmou Nina Torres.
Mais de 90 mil eleitores são chamados a votar, no próximo domingo, nas legislativas, regional do Príncipe e autárquicas de São Tomé e Príncipe.
Jornalista da agência Lusa