23 março 2018 às 19h28

Trinta anos depois, minas terrestres ainda ensombram campo de batalha de Cuito Cuanavale

Doze anos depois de começar o trabalho de desminagem no campo de batalha de Cuito Cuanavale, metade do terreno continua restrito por causa das minas terrestres colocadas durante a guerra civil angolana, afirmou hoje um responsável da Halo Trust.

Lusa

Gerhard Zank, gestor do programa de desmontagem daquela organização não-governamental em Angola, estima que tenham sido removidas desde 2006 até agora mais de 35 mil minas antipessoais e anti-veículos graças a um trabalho "extraordinário" de 150 a 200 habitantes locais, além dos técnicos estrangeiros.

"Os soldados deviam estar com muito medo, para colocar tantas minas. São sobretudo engenhos explosivos improvisados, muito perigosos, de origem soviética e russa", descreveu.

Devido à impossibilidade de usar viaturas na desmontagem, tudo tem de ser feito manualmente, demorando muito tempo a avançar no terreno, que terá ainda mais de 30 mil minas por eliminar.

Zank falava hoje num painel de uma conferência organizada pelo Instituto Real de Relações Internacionais (Chatham House) em Londres, a propósito do 30º. aniversário da Batalha de Cuito Cuanavale.

Travada entre novembro de 1987 e 23 de março de 1988 na província angolana do Cuando Cubango, no sudeste do país, opôs as ex-Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, auxiliadas por tropas cubanas e pelo apoio da União Soviética, contra militares da África do Sul coligados com a Unita.

É considerado a segunda maior batalha da História do continente africano, depois da Batalha de El Alamein, no Egito, durante a II Guerra Mundial, e a maior da África subsaariana, contribuindo decisivamente para o fim do apartheid na África do Sul e a independência da Namíbia.

O evento da Chatham House foi dedicado a discutir o significado, implicações regionais e legado, tendo juntado veteranos das forças armadas angolanas e sul-africanas e académicos especialistas naquele período histórico.

Jane Cocking, do Mines Advisory Group, disse que Angola, e em particular a área onde da batalha de Cuito Cuanavale, é das mais contaminadas por minas terrestres, e que o trabalho de desminagem está comprometido pela redução de 86% de donativos da comunidade internacional.

Gerhard Zank lembrou como, trinta anos depois, as populações já puderam começar a cultivar alguns dos terrenos e que o potencial de desenvolvimento económico é grande, tendo em conta o interesse turístico no delta do Okavango.

"É preciso de trazer benefícios para região de Cuito", apelou.

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