Uma antiga secretária de um campo de concentração nazi, de 97 anos de idade, foi condenada a dois anos de prisão com pena suspensa, num dos últimos casos relacionados com o Holocausto, na Alemanha.
Com 97 anos, Irmgard Furchner foi condenada por cumplicidade na morte de mais de mais de dez mil pessoas no campo de concentração de Stutthof.
Uma antiga secretária de um campo de concentração nazi, de 97 anos de idade, foi condenada a dois anos de prisão com pena suspensa, num dos últimos casos relacionados com o Holocausto, na Alemanha.
Irmgard Furchner, acusada de cumplicidade na morte de mais de mais de dez mil pessoas no campo de concentração de Stutthof, atualmente em território polaco, começou a ser julgada em setembro de 2021 no Tribunal de Itzehoe, no norte da Alemanha.
A sentença está de acordo com o pedido do Ministério Público alemão, que tinha sublinhado o "significado histórico excecional" do julgamento de Irmgard Furchner, com uma sentença "simbólica".
A acusada esteve presente quando foi pronunciada a sentença que escutou sentada numa cadeira de rodas.
Durante o julgamento nunca falou, exceto numa das últimas audiências, este mês, quando lamentou os factos.
"Sinto muito o que aconteceu. Lamento ter estado em Stutthof nessa altura", disse.
Irmgard Furchner é a primeira mulher a ser julgada da Alemanha, nas últimas décadas, por crimes cometidos pelo regime nazi, no poder na Alemanha entre 1933 e 1945.
A ex-secretária tinha tentado escapar ao julgamento, tendo no dia do início das audiências abandonando o lar de idosos onde vive, sendo encontrada algumas horas mais tarde.
Na altura dos factos, Furchner tinha 18 anos de idade e trabalhava como datilógrafa e como secretária do comandante do campo, Paul Werner Hoppe, ocupando uma posição com "significado" no sistema desumano do complexo, disse a procuradora Maxi Wantzen durante o julgamento.
Os advogados pediram a absolvição, argumentando que não tinha sido provado que a antiga secretária tivesse conhecimento dos assassínios em Stutthof.
Devido à idade na altura dos crimes, Irmgard Furchner foi julgada perante um tribunal especial para jovens.
Em Stutthof, um campo de concentração situado perto de Gdansk (Danzig na altura), calcula-se que 65 mil pessoas tenham sido sistematicamente assassinadas, entre prisioneiros judeus, elementos da resistência polaca e prisioneiros de guerra soviéticos.
Durante o julgamento, vários sobreviventes prestaram testemunho, acreditando, segundo o procurador, que "tinham o dever de falar, mesmo que tivessem de superar a dor para o fazer".
Os prisioneiros viviam em condições desumanas, concebidas para os fazer morrer lentamente.
A maioria dos prisioneiros morreu de fome, sede, doenças como o tifo, e exaustão devido aos trabalhos forçados. Para executar os prisioneiros considerados fisicamente "mais fracos", o campo dispunha de câmaras de gás.
Segundo a procuradora, os crimes cometidos durante o nazismo não teriam sido possíveis sem o sistema burocrático do qual Furchner fazia parte, "gozando da confiança do comandante e mantendo acesso a todos os documentos considerados confidenciais".
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) terminou há 77 anos, mas a Alemanha continua a procurar antigos criminosos nazis ainda vivos para os levar a julgamento.
Muito poucas mulheres envolvidas em crimes nazis foram processadas depois de 1945: Traudl Junge, a secretária privada de Adolf Hitler nunca foi processada e morreu em 2002.
A jurisprudência após a condenação em 2011 de John Demjanjuk, guarda do campo de concentração de Sobibor a cinco anos de prisão efetiva permite atualmente acusar de cumplicidade, por milhares de assassínios, qualquer funcionário dos complexos de extermínio: do guarda ao contabilista.
No passado mês de junho, um antigo guarda do campo de concentração de Sachsenhausen (norte de Berlim), de 101 anos, foi condenado a cinco anos de prisão.