Nascido em São Tomé e Príncipe a 30 de outubro de 1992, Jorge Fonseca chegou a Portugal com 11 anos. Ainda jogou à bola com os outros miúdos na rua, "mas não tinha jeito nenhum" e começou a praticar judo numa escola na Damaia seduzido pelos combates de Pedro Soares, que hoje é seu treinador no Sporting. "O Pedro Soares dava aulas na escola da Damaia. Eu ia olhando pela janela para ver como era, no dia a seguir voltava... Fui começando a gostar. Ainda não era assim nada de especial, mas pedi autorização à minha mãe e fui experimentar. Sabes, eu não era assim, era um bocado gordinho... Comecei a investir no trabalho do meu corpo para ser um grande judoca", recordou em tempos, ao Observador, o novo campeão do mundo de judo na categoria -100 kg.
Demorou pouco a impor-se no tatami e em 2013 deu mostras de poder fazer carreira no judo. Nesse ano conquistou o título português de sub-23 e conseguiu algo de inédito para o judo nacional ao tornar-se o primeiro atleta masculino português a alcançar o título de Campeão da Europa de sub-23.
A glória ameaçava chegar quando a vida lhe trocou as voltas. Aos 17 anos foi pai e as prioridades mudaram. Pouco depois da felicidade de ser pai, em 2015 o judoca descobriu que tinha um tumor na perna. Apesar disso o judo nunca deixou de fazer parte do seu dia-a-dia.
Superou a doença com a ajuda do filho. "Foi complicado, porque quando fazia os tratamentos estava sempre maldisposto, de cara trancada, e tinha ali ao meu lado o meu filho que me fazia rir. Cheguei a ir treinar doente. Na altura dos tratamentos ficava arrasado, mas quando estava com ele ganhava força", desabafou o atleta ao jornal Sporting, que treina três horas de manhã, outras três à tarde e folga apenas ao domingo.
Com o tempo consumido pela família, a saúde e o judo, os estudos foram ficando para trás. Agora, garante que ainda quer acabar o 12.º ano para poder ir para a polícia. Até lá brilha no judo. E é no Japão, país onde já foi detido por duas vezes - uma delas por passar a rua fora da passadeira, a outra por correr na rua sem T-shirt -, que ele espera repetir o triunfo daqui a um ano. Jorge Fonseca sonha ganhar os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020: "Tenho de acreditar que vou conseguir."
Até aqui, dizia que tinha o campeonato do Mundo "entalado na garganta" depois de um sétimo lugar conquistado nos anteriores mundiais. Agora, no Japão, Jorge Fonseca vingou-se e conquistou o título mundial na categoria de -100 kg, ao vencer o russo Niyaz Ilyasov na final e após ter derrotado o azeri Elmar Gasimov, o georgiano Liparteliani, o chileno Briceno, o indiano Avtar Singh e o irlandês Benjamin Fletcher.
Acabou o combate a dançar e é em festa que quer ser recebido o gigante de 1,74 metros e 100 kg. "Quero ser recebido em festa, todo o mundo a dançar e a viver. É isso que eu quero", afirmou o primeiro judoca português a conquistar uma medalha de ouro em Mundiais, justificando a sua celebração.
Aos 26 anos, Jorge não podia imagina melhor desempenho na competição, que além do ouro mundial lhe valeu um lugar em Tóquio 2020. "Trabalhei bastante para isto e estou muito feliz. Senti-me o melhor judoca do mundo, trabalhei imenso para isto e é um momento muito grande na minha vida. [Ouvir o hino] é uma situação incrível, nunca o tinha ouvido em campeonatos do mundo. Espero voltar a ouvir muitas vezes", atirou o judoca que assegurou a segunda medalha de Portugal nos Mundiais, depois da prata de Bárbara Timo em -70 kg.