Depois de aproximadamente 60 anos a iluminar casas, empresas e ruas por toda a Europa, as lâmpadas de halogéneo vão mesmo ser banidas. A partir deste sábado, deixam de poder ser introduzidas no mercado, devendo ser substituídas por LED (diodo emissor de luz), uma alternativa considerada mais económica e amiga do ambiente. Por enquanto, os comerciantes ainda podem vender o que tiverem em stock, bem como as lâmpadas mais pequenas, usadas nos fornos, para as quais ainda não existe alternativa.
Patenteada pela GE Lightning em 1959, a lâmpada de halogéneo tinha um funcionamento semelhante ao das incandescentes originais, criadas por Thomas Edison: uma ampola de vidro com um filamento em espiral de tungsténio no interior. Mas, enquanto nas originais o filamento estava envolvido em gases inertes, nas de halogéneo estava dentro de uma cápsula de quartzo que continha gases halogenados. Estas apresentavam, assim, algumas vantagens, como uma maior eficiência luminosa e uma maior durabilidade, já que permitiam a regeneração do filamento.
"As lâmpadas incandescentes são as menos eficientes energeticamente, já que apenas cerca de 8% da energia consumida é convertida em luz; as de halogéneo são cerca de 20% a 40% energeticamente mais eficientes do que as incandescentes; e as LED cerca de 90% energeticamente mais eficientes do que as incandescentes", explica ao DN Laura Carvalho, do Grupo de Energia e Alterações Climáticas da Quercus.
Ao longo dos anos, as lâmpadas de halogéneo foram evoluindo no desenho, na direção da luz, na possibilidade de controlar a cor, aumentando a eficiência. Foram consideradas a melhor opção de iluminação durante muito tempo.
Agora, a Europa vai despedir-se das lâmpadas de halogéneo, na sequência de uma diretiva da Comissão Europeia, que desde 2009 tem vindo a acabar com as lâmpadas incandescentes e determinou o dia 1 de setembro deste ano como a data para pôr fim à comercialização destas lâmpadas. A ideia é promover a compra e utilização de LED.
"Algumas vantagens das LED em relação às de halogéneo são uma maior eficiência energética (cerca de oito vezes mais eficiente), maior durabilidade (até mais de 25 000 horas de vida útil contra as 2000 horas), retorno do investimento logo no primeiro ano (na maioria dos casos, a nível residencial), maior aplicabilidade (têm uma gama de aplicações superior às tecnologias tradicionais de iluminação e possibilitam inovar na iluminação, quer no setor doméstico quer no industrial (comercial) e a reciclagem dos materiais (as lâmpadas LED, ao contrário das de halogéneo, estão abrangidas por um sistema de gestão de resíduos e por isso devem ser colocadas no ecoponto destinado aos resíduos elétricos e eletrónicos)", indica Laura Carvalho.
Nos últimos anos, prossegue, assistiu-se "a uma melhoria nos preços das lâmpadas LED, a uma maior variedade e melhor qualidade. Há muitas marcas a apostar nesta tecnologia".
Se o consumidor trocar uma lâmpada de halogéneo de 75W por uma de LED de 10W, poupará, em média, 20 euros por ano. Se multiplicar essa poupança por dez lâmpadas, são 200 euros num ano.
A decisão de acabar com as lâmpadas mais baratas não foi, contudo, aceite pacificamente em toda a Europa. Várias vozes se levantaram para criticar a medida imposta pela Comissão Europeia, por considerarem que os consumidores deviam ter a possibilidade de escolher.
Ao DN, Rute Ferreira, docente no Departamento de Física da Universidade de Aveiro, diz que "o fim do halogéneo não é um problema, porque o LED dá tudo o que ele oferece". Quanto ao facto de ter um custo mais elevado, lembra que, se houver uma utilização mais alargada, o preço naturalmente baixa.
Dentro das lâmpadas LED, a investigadora do CICECO - Centro de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos refere que há umas mais baratas do que outras, emitindo as mais baratas uma luz mais branca. Uma desvantagem face às de halogéneo, que emitem uma luz "mais amarelada, que dá uma sensação de conforto maior".
A luz branca é adequada para trabalhar, ler e fazer algumas atividades. Contudo, em casa, a partir de uma determinada hora, é aconselhada uma luz amarelada, como a do pôr do Sol, mais adequada ao ritmo circadiano. Mas, diz Rute Ferreira, "o veneno está na dose", pelo que "a quantidade de luz que recebemos é que determina se é prejudicial ou não". Os tablets, adianta, tendem a ser mais prejudiciais.
As lâmpadas fluorescentes, diz a professora da UA, "continuam a ser interessantes, mas não são tão eficientes como o LED". Além disso, têm um tempo de resposta mais longo e não são uma alternativa sustentável do ponto de vista ambiental, já que têm mercúrio na composição.
A desenvolver investigação na área da iluminação LED, Rute Ferreira diz que os grandes desafios continuam a ser o desenvolvimento de lâmpadas capazes de reproduzir a luz solar que temos ao longo do dia, ou seja, que não interfiram com a perceção das cores em redor, e que não utilizem iões lantanídeos na composição, pois estes têm um custo de produção elevado e são tóxicos.