Apanhado pela notícia do semanário Sol em plena cimeira ibérica, José Sócrates começou por não querer comentar o caso: "Não comento as actividades das autoridades judiciais."
E logo a seguir comentou, insinuando uma cabala construída para lhe dinamitar ambições eleitorais: "O caso Freeport surgiu na campanha eleitoral de 2005 e volta agora, em 2009, quando vamos disputar novamente eleições." Às autoridades judiciais deixou um apelo, dito em tom de ordem: "Façam o seu trabalho e o façam rápido."
Repetiu então o que já tinha dito em 2005, quando o caso surgiu pela primeira vez, n'O Independente, a poucos dias das legislativas: o projecto Freeport "foi feito obedecendo a todas as normas e exigências legais". "E eu bem posso falar, porque era ministro do Ambiente. Embora não tivesse participado no licenciamento, o ministério do Ambiente fê-lo obedecendo a todas as normas e exigências ambientais. Disse-o em 2005 e digo-o agora."
À noite, na SIC Notícias, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, voltava a insinuar a tese da cabala. O caso, disse, está a ser servido à opinião pública "numa lógica de arrastar para a lama o nome de uma pessoa em pequenas tranches". Repetiu o apelo à justiça: "celeridade" e "respeito pelo bom nome". E recusou-se a comentar "fontes anónimas, suspeitas e insinuações": "Não me queiram meter nesse filme."
A maioria PS na Assembleia da República ficou muito nervosa assim que a notícia rebentou, ao fim da manhã. Dando a cara ninguém comentou o caso. Pedindo o anonimato, o parlamentar socialista disse ao DN: "Eu já achava que em política oito dias eram uma eternidade; agora começo a achar que um dia é uma eternidade..."
Ninguém no grupo - sobretudo na sua direcção - ignora o potencial explosivo deste caso para as ambições eleitorais do PS. O problema, comentou ao DN um deputado, é mesmo o arrastamento prolongado das investigações sem conclusão em tempo útil. Dito de outro modo: a manutenção por longas semanas ou meses de uma condição de suspeição sobre o primeiro-ministro em relação à qual ele pouco pode fazer.|