A influência do hóquei de campo do pai (João Rodrigues) e da patinagem artística da irmã (Raquel) uniram-se para criar um dos melhores hoquistas mundiais, de seu nome João Rodrigues. Um português que brilha no Barcelona (47 golos em 44 partidas) e se prepara para conquistar o título espanhol de hóquei em patins. É o terceiro português a jogar na equipa catalã, depois de Carlos Realista (1987-1988) e de Luís Querido (um jogo em 2009-2010) e pode ter companhia lusa na próxima época (Hélder Nunes do FC Porto).
João cresceu no Restelo a ver o pai jogar hóquei em campo, mas foi em Paço de Arcos que nasceu para o hóquei em patins: "Praticamente desde que nasci que acompanhava o meu pai nos treinos do Belenenses e andava sempre com o stick na mão. Levava-o para todo o lado. Depois como a minha irmã andava na patinagem artística, comecei também a patinar, tinha uns 4 anos. Passados um ou dois meses de andar na patinagem pedi aos meus pais para ir para o hóquei em patins." Sem saber se tinha jeito escolheu logo "a escola de maior referência no hóquei em Portugal, o Paço d"Arcos".
Era perto de casa e isso facilitava a ida regular aos treinos. Foi nos rinques do clube da Linha de Cascais que passou 14 anos. Assim que atingiu a maioridade mudou-se para a Luz, onde esteve nove anos ao serviço do Benfica e de onde saiu para o Barcelona. "Foi muito difícil sair do Benfica. Numa primeira abordagem do Barcelona disse que não, mas depois passado um ano acabei por não resistir a esta oportunidade. Custou porque sempre tive como lema não sair de onde estava feliz. Mas percebi que precisava de mudar, desafiar os meus limites e estabelecer novos objetivos", contou ao DN João Rodrigues.
Hoje, passados alguns meses, ainda está "maravilhado". Barcelona tem sido "uma experiência fantástica" e superado as expectativas do português de 28 anos: "O clube, a cidade, a equipa, o staff é melhor do que eu podia pedir ou imaginar. Os resultados ajudam, a época tem estado a correr muito bem a nível coletivo, o que ajuda ao bom ambiente e leva-me a desfrutar mais de tudo."
Pelo meio, não sabe bem quando, houve uma altura em que olhou para o hóquei como profissão, mas nunca como meio único de sustento. O hóquei "foi e é a grande paixão" do hoquista lisboeta, que já desde a adolescência vem acautelando o futuro. Primeiro com o curso de Gestão, depois com o mestrado em Gestão Desportiva na Universidade de Barcelona. Como o pavilhão é perto da universidade e os treinos são ao final da manhã, dá para ir às aulas e depois "a pé" para o treino no Palau Blaugrana. Aliar contas ao desporto é mau sinal para alguns. Mas para João "qualquer conta é boa".
O hoquista português sente-se também "completamente adaptado" à cidade e cultura catalã. E até já tem um filho espanhol. Afonso nasceu há três semanas em Barcelona, cidade onde o pai é apenas um dos três portugueses a brilhar com as cores blaugrana - Gilberto Duarte foi campeão de andebol pelo Barcelona e Nélson Semedo prepara-se para festejar o título no futebol ao lado de Messi e companhia.
Um site de referência na modalidade, o Rink Hockey, elegeu-o em fevereiro como o melhor hoquista do mundo. Mas João não entra em euforias: "Não é um prémio oficial e, não querendo desvalorizar, para a votação ser fidedigna teria de se basear em outros fatores e outros cálculos. Mas é bom para o ego, para o moral e sinal de que tenho estado nas maiores decisões da modalidade nos últimos anos e ganho. Não serei o melhor jogador do mundo, mas sou aquele que tem tido os melhores resultados."
Resultados esses que foram conseguidos apenas com três camisolas. O Paço d"Arcos, o Benfica e agora o Barcelona, um clube que já tem no museu 22 Ligas dos Campeões de hóquei e se prepara para conquistar mais um título espanhol (tem mais 13 pontos do que o segundo classificado). Só esta época já conquistou quatro troféus, entre eles uma Taça Intercontinental frente ao FC Porto.
A bola é pequena e o público mal a vê, mas o hóquei em patins, na opinião do jogador do Barcelona, "tem mais fascínio" do que qualquer outra modalidade em Portugal... tirando o futebol. "Na televisão o hóquei perde bastante, mas não tenho dúvida de que nos pavilhões é superatrativo, é a modalidade mais apaixonante de seguir, a bola está sempre perto das balizas, há muita emoção, muita velocidade, um desporto muito complicado de jogar", explicou, lembrando que em Espanha como em Portugal os pavilhões estão cheios.
Cresceu a admirar a geração de Pedro Alves, depois Reinaldo Ventura e Filipe Gaidão. Agora é ele próprio uma referência de uma modalidade "em crise de visibilidade e mediatismo", mas João não tem dúvidas de que "o hóquei ainda é um produto vendável". Só "não pode é parar no tempo". Pois é um desporto que "faz parte do ADN dos portugueses" e da "identidade do país", embora "não seja tão respeitada como devia". A responsabilidade "é de todos os que fazem parte do universo do hóquei".
E no que a política desportiva diz respeito, Portugal podia olhar mais para o vizinho do lado: "Em Espanha trabalha-se muito bem, há uma mentalidade vencedora e não deve ser por acaso que eles são bons em todas as principais modalidades e talvez por isso nos últimos 20 anos nos tenham ultrapassado."
Na seleção, os eternos duelos com Espanha, Itália e Argentina são cada vez menos favoráveis aos portugueses. O último título mundial conquistado foi em 2003. Porquê? "Não sei decifrar uma causa para o facto de Portugal não ganhar há muitos anos. Apesar disso as pessoas ainda param para ver os jogos da seleção. As pessoas querem ver Portugal ganhar e nós hoquistas temos de voltar a pôr Portugal mais vezes no lugar mais alto do pódio nos europeus e mundiais", respondeu o hoquista de 28 anos.
A seleção portuguesa ainda é a mais vitoriosa no hóquei em patins a nível mundial, com 15 campeonatos do Mundo, 21 campeonatos da Europa, 18 Taças das Nações e quatro Jogos Mundiais, num total de 58, mais oito do que a Espanha (50), que contudo já ultrapassou Portugal nos mundiais ganhos (17). A pior classificação da equipa nacional numa das cinco provas de seleções que existiram foi um sexto lugar no Mundial 2007, além de ter sido quarta nos Jogos Olímpicos de Barcelona (1992), nos mundiais de 2001 e 1997 e nos europeus de 1932 e 1938. Tirando esses anos ficou sempre no pódio das grandes competições.
António Livramento morreu dois meses depois de conquistar o título de campeão pelo FC Porto como treinador (1999). Na memória dos portugueses e dos amantes do hóquei a nível mundial ficou a elegância com que rolava nos rinques e manejava o stick. Conquistou vários títulos, em que se destacam os dois Mundiais e os três Europeus pela seleção e a Taça dos Campeões Europeus pelo Sporting. E tudo começou no mau jeito para o futebol... A certa altura, um técnico do Fofó achou que o jovem natural de Mação (Alentejo) tinha jeito para o hóquei em patins e convidou-o a aparecer no rinque. Depois foi passeando a sua classe e deliciando pavilhões ao serviço do Sporting e Benfica, e dos italianos do Monza e Amatori Lodi.
Paulo Almeida é para muitos o melhor de sempre, apesar de a sombra de Livramento ter pairado sempre sobre o ex-jogador do Benfica, Sporting, Óquei Barcelos e Juventude Viana. Um dia ia para a praia com o irmão e uns amigos quando um amigo do irmão os desafiou para jogar hóquei. Tinha 5 anos. Foi, experimentou e ficou a rolar até aos 41 anos, altura em que acabou a carreira. Começou no Parede FC, mas foi de águia ao peito que brilhou mais. Nos dez anos em que esteve na Luz conquistou cinco títulos nacionais e muitas taças nacionais e europeias. O atual técnico da equipa feminina de hóquei em patins do Benfica fez parte da geração de 2003, ainda hoje considerada a melhor de sempre, que se sagrou campeã do mundo.
Vítor Hugo, o último treinador português campeão do mundo com Portugal (2003), é também um dos maiores nomes da modalidade. Virtuoso com o stick, o ex-FC Porto ainda hoje é visto como um verdadeiro génio do hóquei em patins. Começou a carreira de atleta na ginástica e na patinagem no Académico de Espinho, antes de escolher o hóquei. Tinha 5 anos e cedo revelou talento. Ao ponto de aos 16 se mudar para o Dragão, onde conquistou oito campeonatos, duas Taças dos Campeões Europeus, duas Taças das Taças e uma Supertaça Europeia, além de um campeonato italiano pelo Novara. Pela seleção, o agora vice-presidente do FC Porto fez 195 golos em 122 jogos e conquistou ainda um Campeonato do Mundo.