Desporto
17 setembro 2017 às 01h02

Último campeão por Sporting e Benfica dedica-se às framboesas

O antigo lateral Luís Filipe vive em Vilamoura, onde é proprietário de uma quinta em que o fruto é produzido em estufas. Foi o primeiro jogador a marcar no novo Estádio de Alvalade

David Pereira

Já ninguém rouba um lugar na história a Luís Filipe. O antigo lateral/extremo foi o primeiro jogador a marcar no novo Estádio José Alvalade, a 6 de agosto de 2003, no tal Sporting-Manchester United que deixou os red devils loucos por Cristiano Ronaldo. E também integra a restrita lista de futebolistas que foram campeões nacionais pelos dois grandes de Lisboa. Na verdade, é o último dessa listagem, pois esteve no derradeiro título dos leões (2001-02) e celebrou a conquista do campeonato de águia ao peito na primeira época (2009-10) de Jorge Jesus na Luz.

Finda uma "carreira bonita", da qual se orgulha bastante, o futebol do antigo internacional sub-20 e sub-21 deu lugar à agricultura. "Estou a viver em Vilamoura, onde tenho um negócio de produção de framboesas em estufas, numa quinta da qual sou proprietário", revelou. "Terminei a minha carreira no Olhanense, em 2014, e na altura eu e a minha família queríamos ficar a viver no Algarve. Tentei encontrar alguma coisa que pudesse fazer e as pessoas deste ramo incentivaram-me a entrar. Mostraram-me as mais-valias do negócio, como o clima algarvio. Ao contrário da maioria dos negócios no Algarve, este não é sazonal. Juntei o útil ao agradável", explicou o ex-futebolista, que tem saudades do cheiro da relva e do balneário, mas que tem mais "disponibilidade" após ter pendurado as botas.

De lado vai pondo o futebol, uma paixão que agora acompanha apenas enquanto espectador, embora pisque um olho a um regresso à modalidade. "Gostava de um dia voltar a estar ligado ao futebol e acho que irá acontecer. É uma questão de aparecer a oportunidade certa", confessou, embora se diga "preenchido" pela atividade que lhe ocupa o tempo.

Faltou a seleção principal

Luís Filipe confessa que "houve coisas" que lhe "faltaram conquistar", mas que não se pode queixar da carreira que teve. "Ter passado pelos maiores clubes portugueses, ter sido campeão e ter marcado o primeiro golo do novo Estádio de Alvalade são marcos. Fazer parte da história de um clube como o Sporting é uma honra", analisou, fazendo a retrospetiva a um percurso ao qual faltou a cereja no topo do bolo: a chamada à seleção principal.

"Um objetivo que não atingi foi ser internacional AA. Julgo que estive perto, quando me destaquei mais, na segunda passagem pelo Sp. Braga (2005-06 e 2006-07). Estava no auge das minhas capacidades e foi isso que me levou para o Benfica. Mas havia muitos bons jogadores para a minha posição e nessa altura olhava-se quase exclusivamente para os três grandes e para os clubes estrangeiros", lamentou, sem ter presente que foi o último jogador a ser campeão por Sporting e Benfica.

Mais frescas na memória estão, contudo, as chaves para os títulos que conquistou ao serviço de leões e águias. "No Sporting tínhamos um plantel fantástico, com jogadores no auge da carreira. Éramos uma família, a remar no mesmo sentido. Foi assim que levámos até ao fim um campeonato exigente como o português. Se houver qualidade e não houver respeito, nada feito", recordou, acreditando que o jejum de títulos dos verde e brancos desde então se deve mais a "mérito dos outros" do que a "demérito do Sporting".

Em Alvalade encontrou um treinador que lhe mudou a carreira, Fernando Santos, pois foi o primeiro a adaptar o então extremo à posição de lateral direito. "Houve uma tentativa de jogar a lateral, num sistema de três centrais. Entretanto, fui cedido ao Marítimo, e foi aí que se deu a adaptação definitiva, através do prof. Mariano Barreto. O Marítimo já tinha um excelente extremo, o Alan, e juntos formámos uma ala direita muito forte. A adaptação correu muito bem", lembrou.

E foi na condição de lateral e com Fernando Santos como treinador que chegou ao Benfica, no verão de 2007. Foi opção regular na primeira época, em que teve Camacho e Chalana como técnicos, foi emprestado ao V. Guimarães quando Quique Flores passou pela Luz e voltou a integrar o plantel já com Jorge Jesus, em 2009, numa temporada que terminou com a conquista do campeonato. "Foi nessa altura que houve uma mudança muito grande no Benfica. Muitas coisas mudaram para melhor. Antes, muita gente falava e mandava, e isso não era bom. O clube passou a funcionar a uma só voz. E a juntar a isso foram contratados excelentes jogadores", explicou o ex-futebolista, que alinhou em 269 partidas na I Liga.

Passou pelos rivais do Minho

Além de ter passado pelos grandes de Lisboa, também representou as principais equipas do Minho, vivendo dos dois lados os sempre quentes dérbis entre Sp. Braga e V. Guimarães. "São jogos vividos muito intensamente tanto de um lado como de outro, dentro e fora do relvado. Não há muitas diferenças. Uma vitória vale quase como um campeonato. Talvez seja vivido de uma forma mais fervorosa por parte dos vimaranenses, que têm adeptos mais aguerridos", considerou Luís Filipe, que também tem más recordações dessas partidas. "Por vezes o nosso autocarro era apedrejado quando chegávamos ou saíamos de um estádio", recordou o antigo lateral, que tem saudades de "jogar futebol, dos jogos, dos estádios cheios, da adrenalina antes das partidas e dos treinos", mas que diz não ser adepto de um clube em particular.