Alberto Bastos Lopes, ou Bastos Lopes II como era tratado no Benfica para o distinguirem do irmão António, passou os últimos 40 anos a entrar e a sair dos relvados. Primeiro como jogador, depois como treinador. Orientar equipas desde o banco foi o primeiro desafio pós--carreira e a grande paixão, mas agora o desafio passa por ver futebol na televisão sentado no sofá ou numa cadeira de um estádio qualquer, como colaborador de uma empresa de agenciamento de jogadores.
"Eu abandonei bastante cedo, aos 28 anos, devido a uma lesão, e iniciei a carreira de treinador pouco depois, com 31 anos. Treinei a um nível que me trouxe muita satisfação e alegria nas segunda e terceira divisões, principalmente. Não era aquilo que eu queria para a minha carreira, mas foi a forma possível de fazer aquilo que mais gostava, estar dentro do terreno a dar treinos. E foi isto que eu fiz desde que deixei de jogar e até há pouco tempo", contou ao DN, o agora ex--treinador de 58 anos.
Para um futebolista que acaba a carreira, "ser treinador é o mais próximo" que se consegue para continuar a ter contacto com a bola, o campo, o balneário. E foi isso que Bastos Lopes fez. Deu as primeiras indicações desde o banco no Odivelas, clube que na segunda época levou ao título nacional da III Divisão (1992-93). Um título que haveria de repetir ao serviço do Vilafranquense (1997--1998) e do Lourinhanense (2012--2013).
Pelo meio teve experiências na área da formação e uma delas daria um título nacional de juniores ao Benfica (2003-2004). Nesse ano os festejos do título foram ofuscados pela morte súbita de um dos seus atletas: "Já o disse mil vezes, preferia ter o Bruno Baião ao pé de mim e não ter sido campeão. Ninguém sabe o que o grupo sofreu com a morte do Bruno."
No entanto, no ano passado, decidiu "encostar" a carreira de treinador. "A vida não para quando a carreira acaba, o dinheiro não cai do céu e por isso temos de olhar para as janelas que nos vão abrindo. Não consegui dar o salto na carreira e treinar a outro nível e portanto chegou uma altura em que tive de encarar a realidade e vestir outra camisola", confessou o antigo central.
A necessidade de se sentir útil e a necessidade financeira foram boas conselheiras na hora de abraçar um novo desafio na área do agenciamento de jogadores, na Eurofoot4all: "Faço de tudo um pouco, scouting, verificação de jogos, aconselhamento, estar atento ao mercado, ver jogos de todos os escalões..., e se tiver de fazer contactos diretos com atletas, pais e clubes também faço. A ideia é cobrir todo o país à procura de talentos."
Na altura de Alberto Bastos Lopes, nos anos 80, "os conselhos eram do pai e da mãe". Agora a realidade do futebol é bem diferente, mas ele espera poder fazer uso da sua experiência nas novas funções em que está investido: "É preciso que os jovens percebam que ser jogador não é para todos e por isso eu aconselho sempre que continuem a estudar. Eles sonham logo em ser como Lionel Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar e muitos pais olham para os filhos como um projeto de salvaguarda financeira, o que por vezes é bom, outras não, e por isso é preciso ter muito cuidado."
O irmão mais novo da estrela
Ser o irmão mais novo de uma estrela do Benfica foi avassalador para Alberto, que, ainda por cima, disputava o lugar com o irmão António. "Jogava no Benfica e tinha um irmão mais velho a servir de exemplo. Sempre fomos muito chegados, estivemos juntos no Benfica, morámos juntos e havia uma convivência enorme. Quando as coisas não corriam bem, estávamos lá um para o outro", contou o agora empresário, revelando que o irmão ainda hoje é treinador e segue ligado ao Benfica.
A temporada de 1980-1981 afigurava-se promissora para o jovem Alberto. Diziam, até, que haveria de ser melhor do que o irmão, mas num plantel com António Bastos Lopes, Carlos Alhinho, Humberto Coelho ou Laranjeira, a esperança de jogar era menor. "A concorrência era tremenda e o estatuto era um posto. Os jovens como eu, da formação, tinham de esperar pela sua vez e, quando surgisse a oportunidade, aproveitar nem que fosse por um joguinho ou dois", lembrou.
E como era o Bastos Lopes II em campo? "Era um jogador temperamental, sempre fui... dentro do campo defendia a camisola, não tinha amigos, não tinha irmãos, nada... depois fazia amigos com facilidade, mesmo até entre os adversários, alguns até hoje. Mas como jogador não era muito simpático, para ser sincero. Mesmo antes de ir para o Benfica, quando jogávamos na rua, não gostava de perder e às vezes havia chatices até com o meu irmão, que era mais velho e ganhava mais vezes (risos)", respondeu.
Na Luz festejou três títulos nacionais e mais algumas Taças, mas não há recordação igual à final da Taça UEFA de1983: "Foi uma pena não a termos vencido, mas estar na final foi uma coisa grandiosa, inédita na altura. Marcou-me. Fizemos uma época brilhante, pena termos perdido com o Anderlecht, que tinha uma equipa poderosa a nível europeu. Fomos perder a Bruxelas por 1-0, depois, em Lisboa, o Shéu marcou e empatou a eliminatória, mas logo a seguir num pontapé de canto levámos com o 1-1, um golo de um espanhol que jogava no Anderlecht, e depois já não conseguimos dar a volta... ficou um amargo de boca."
Já agora refira-se que o espanhol a que Bastos Lopes se refere dá pelo nome de Juan Lozano, que marcou na Luz a passe de Vercauteren, antigo treinador do Sporting.
Alberto Bastos Lopes, posto esse jogo, não lograria conseguir ser titular absoluto, mudou-se para o Restelo, onde acabaria por dar outro fôlego a uma carreira, que acabaria, no entanto, cedo de mais, aos 28 anos.