Clonbrien Hero não era o principal favorito, mas deslumbrou os espectadores que acorreram ao Curraheen Park, em Cork, cidade do Sul da Irlanda, no dia 22 de julho, para assistir à grande final das Laurels, uma das mais prestigiadas corridas de galgos irlandesas. O galgo treinado pelo multipremiado treinador Graham Holland bateu o favorito Kilgraney Denver e estabeleceu um novo recorde (28 segundos exatos) de uma corrida que teve a sua primeira edição em 1944. O triunfo valeu um cheque de 30 mil euros. O choque, esse, chegou agora aos media irlandeses: Clonbrien Hero era, afinal, um campeão viciado, tendo acusado vestígios de cocaína no controlo antidoping.
A revelação veio adensar as nuvens negras sobre uma atividade que se debate regularmente com várias acusações de maus-tratos aos animais e voltar a pôr sob suspeita um treinador premiado que já se viu acusado de práticas semelhantes em 2015, quando em vários dos seus cães foram descobertos vestígios de produtos químicos. Na altura, a defesa de Graham Holland invocou tratar-se de um caso de carne contaminada e o treinador foi absolvido de qualquer responsabilidade.
Desde então, o comité irlandês que gere as competições de corridas de galgos (o IGB) apertou a política de combate ao doping e autorizou até a realização de testes fora de competição. Mas as suspeitas de utilização de várias drogas para aumentar o desempenho dos animais - desde Viagra a cocaína, entre outras - não param de ganhar força em várias latitudes deste universo das corridas de galgos.
Segundo a informação prestada pelo IGB, Clonbrien Hero acusou vestígios de benzoilecgonina, um metabólito primário da cocaína - com efeitos semelhantes em animais e humanos -, em três testes diferentes, entre os dias 24 de junho e 22 de julho. Agora, caberá ao Comité de Controlo abrir um processo de inquérito e determinar a eventual sanção a aplicar ao galgo e a Graham Holland, um veterano treinador já com mais de 30 anos de carreira e 2500 vitórias em corridas, não apenas no Reino Unido mas também na Austrália e na Holanda.
Em declarações ao jornal britânico The Times, Holland defendeu-se, alegando que Clonbrien Hero poderá ter ingerido cocaína de forma acidental. "Estamos a ser vítimas de algo pelo qual não somos culpados", referiu. "Se sabes que há testes antidoping a seguir à corrida é óbvio que não vais dar cocaína ao teu galgo. Eu treino há mais de 30 anos e agora sou acusado de os drogar", lamentou-se. "Pode-se transmitir vestígios de cocaína simplesmente pelo contacto de mão. E quando um cão ganha uma corrida há muita gente a fazer-lhe festas no final", acrescentou. Para já, o prémio de 30 mil euros está retido e Clonbrien Hero suspenso de todas as corridas.