O guarda-redes assumiu de forma surpreendente a baliza do FC Porto por decisão de Sérgio Conceição. O defesa-central e o extremo-esquerdo são os rostos da renovação do Benfica de Rui Vitória. Já o extremo-direito começa a encantar Jorge Jesus no Sporting. O talento foi o ponto de partida de todos eles para uma carreira de futebolista, mas só a persistência, a crença e a capacidade de sofrimento os fizeram chegar até aqui.
José Sá
José Sá é o novo dono da baliza do FC Porto, destronando o mítico Iker Casillas. Sérgio Conceição assumiu a opção no jogo da Champions com o RB Leipzig. A surpresa foi geral, mas o treinador defendeu a decisão com unhas e dentes, indo ao encontro da determinação do guarda-redes que em fevereiro deste ano havia dito, em entrevista ao Porto Canal, que queria ser titular "o mais rápido possível", pouco se importando com o facto de ter como rival um dos seus ídolos, a par de Manuel Neuer.
Sá chegou ao FC Porto em janeiro de 2015, como uma das grande promessas nacionais e depois de um percurso sinuoso, que se iniciou aos 9 anos no modesto Palmeiras FC, clube da freguesia de Palmeira, concelho de Braga. Nessa altura, até era defesa-direito e só aos 13 anos é que o seu treinador lhe indicou o caminho da baliza porque não tinha guarda-redes - foi escolhido por causa da sua agilidade. Inicialmente ficou chateado, mas depois começou a ganhar gosto pela função, que acabaria bem mais tarde por levá-lo às seleções nacionais de sub-20 e sub-21.
Aos 15 resolveu mudar-se para o Merelinense. Nos primeiros seis meses apenas treinou, porque não houve acordo entre clubes para a transferência. Só jogaria em 2009-10, época em que despertou o interesse do... Benfica. Aos 17 anos foi para o Seixal cheio de sonhos, mas à sua frente estavam Ederson Moraes e Bruno Varela, na altura bem mais evoluídos. Por isso, nos primeiros quatro meses foi submetido a um trabalho intensivo que lhe deu frutos. Contudo, no segundo ano de júnior, não começou da melhor forma no Benfica: não jogava e propuseram-lhe ir para o Marítimo. Aceitou o desafio.
Os primeiros tempos na Madeira foram duros, sobretudo por causa da distância da família e dos amigos, mas a decisão revelou-se determinante para a carreira. A estreia pela equipa principal do Marítimo soube a vingança, pois contribuiu para a vitória (2-0) sobre o Benfica, na 1.ª jornada da Liga 2013-14. Dois anos depois defendia a baliza da seleção no Europeu de sub-21, cuja final foi perdida nos penáltis para a Suécia. O FC Porto ficou então de olho nele, acabando por contratá-lo em janeiro de 2016. O primeiro jogo de dragão ao peito foi só em outubro com o Gafanha, para a Taça de Portugal. Um ano depois roubou a baliza a Iker Casillas e assume-se agora como um dos fortes concorrentes de Rui Patrício na seleção principal.
Rúben Dias
"Quero chegar ao topo e estou muito focado nisso." Esta frase de Rúben Dias foi proferida em outubro de 2016 numa entrevista à BTV, numa altura em que o defesa-central era o capitão da equipa B do clube da Luz. Um ano depois, aí está ele no topo do futebol encarnado, partilhando o eixo central da defesa com o veteraníssimo Luisão, que já era titular da equipa principal quando Rúben trocou o Estrela da Amadora pelo Benfica quando tinha apenas 10 anos.
Os primeiros passos no futebol foram dados na rua e na escola, e foi quase por acaso que deu o passo seguinte para seguir a profissão de futebolista. Foi um colega de escola, que jogava no Estrela da Amadora, quem lhe perguntou se gostaria de ir para o já extinto clube da Reboleira. Disse que sim e, com a anuência dos pais, lá foi em busca do seu sonho. Ali esteve pouco tempo, pois um dia Bruno Maruta, na altura um dos olheiros dos encarnados, descobriu nele qualidade e talento, tendo logo abordado o pai do jovem para o levar para as camadas jovens do Benfica. Rúben disse logo que sim. Entrou para as escolinhas e quando chegou a altura de se mudar para o Seixal, preferiu continuar em casa dos pais, optando por fazer todos os dias o caminho entre a Amadora e o centro de estágio, onde partilhou o balneário desde logo com Renato Sanches, mas também com Diogo Gonçalves e João Carvalho, atuais companheiros na equipa principal.
Desde cedo revelou uma grande capacidade de comunicar com os colegas em campo, algo que o acompanha até hoje. É de tal forma que, quem o conhece bem, não tem dúvidas em apontar que se trata de um atleta com uma grande capacidade de liderança, de comunicação e com uma maturidade acima da média. Foi por esse conjunto de qualidades que o treinador Hélder Cristóvão lhe deu a braçadeira de capitão da equipa B no início da época passada. Além disso, não é daqueles jogadores que tem um ídolo que procura seguir, prefere ver as qualidades que cada central tem e que ele pode transpor para a sua forma de jogar.
Rúben Dias foi lançado por Rui Vitória na equipa principal numa derrota com o Boavista, no Bessa, mas mostrou logo que estava pronto a assumir um papel importante na equipa. O jogo com o Manchester United foi a primeira grande prova de fogo, tendo passado com distinção. Internacional desde os sub-15, o central benfiquista é agora a grande esperança da seleção nacional para o rejuvenescimento do eixo central da defesa.
Diogo Gonçalves
A noite de 18 de outubro de 2017 ficará gravada na carreira de Diogo Gonçalves como a concretização de um sonho de menino. Foi titular num jogo no Estádio da Luz e logo com o histórico Manchester United para a Liga dos Campeões.
Em criança, Diji, como ainda hoje é conhecido na vila alentejana de Almodôvar, onde nasceu, foi muitas vezes visto a andar com o pai Vítor Jacob, também ele futebolista, para todo o lado e era até presença assídua no balneário do clube da terra... sempre com uma bola colada ao pé. Daí não estranhou que aos 6 anos já jogasse com os miúdos mais velhos no Clube Desportivo de Almodôvar. Foi naquele pequeno clube do Baixo Alentejo que o seu talento despertou a atenção do Benfica.
Aos 10 anos mudou-se então para o FC Ferreiras, a filial do Benfica no Algarve, cujas instalações ficavam a cerca de 70 quilómetros de casa. Ali conheceu aquele que é um dos seus melhores amigos, o algarvio Gonçalo Rodrigues, também conhecido por Guga, que dois anos depois o acompanharia para o centro de estágio dos encarnados no Seixal, tendo sido companheiro de equipa até à temporada passada, na equipa B dos encarnados.
Aos 12 anos, assumiu perante os pais que queria aceitar o desafio que lhe propunham. Ou seja, mudar-se para longe da família em busca do sonho de ser futebolista do Benfica, o clube do seu coração. Ficou a viver no Caixa Futebol Campus e com Guga (atualmente ainda na equipa B) partilhou momentos de sofrimento por estar a cerca de 200 quilómetros dos pais. Juntos acabaram por arranjar forças para superarem as saudades e as dificuldades.
No Seixal, os treinos e os estudos foram a vida de Diogo Gonçalves durante a escalada de todo o edifício da formação do Benfica. Foi durante esse período que desenvolveu o gosto pelo remate e a grande admiração que tinha por Simão Sabrosa, que o levou mesmo a imitar os gestos e até a cor das botas. Só que aos poucos Cristiano Ronaldo passou a ser o modelo que procurou seguir, sobretudo "no trabalho, crer e ambição", conforme revelou em entrevista recente.
O sonho que Diogo Gonçalves partilhava com o pai foi finalmente alcançado, seguem-se agora desafios bem mais exigentes, o maior dos quais passa, para já, por atingir uma posição de destaque de águia ao peito. Se tiver Cristiano Ronaldo como modelo, o caminho tornar-se-á menos sinuoso....
Daniel Podence
Os 162 centímetros de altura nunca foram um obstáculo para Daniel Podence mostrar o seu enorme talento para o futebol. Foi no jardim de Caxias, entre árvores e uma estátua, que começou a mostrar os seus dotes técnicos e a velocidade supersónica, na companhia do grande amigo José Manuel Varela, atual futsalista da Quinta dos Lombos, dois anos mais velho.
A infância foi passada na freguesia de Caxias, onde passava muito tempo no café Podence, nome de família herdado pelo trisavô, que vivia em Macedo do Mato, na freguesia de... Podence, no concelho de Bragança. Foi na altura em que foi registado que o trisavô recebeu o nome da sua freguesia.
Por causa da baixa estatura, todos tratavam o agora jogador do Sporting por Danielito, um diminutivo que foi perdendo com o tempo, sobretudo depois de aos 7 anos ter ido fazer treinos de captação ao Belenenses. Ficou, pois claro, e três anos depois já ninguém era indiferente àquele miúdo irrequieto, que era um tormento para as defesas contrárias. Benfica e Sporting surgiram para o levarem para as respetivas academias, mas a opção recaiu em Alcochete, pois já nessa altura era adepto fanático dos leões, apesar de a família ser toda benfiquista.
No Sporting conheceu outro dos seus grandes amigos, Francisco Geraldes, com quem fez o percurso por todos os escalões de formação, tendo inclusive ambos rumado a Moreira de Cónegos na época passada, naquela que foi a verdadeira prova de fogo para ambos. Era a primeira vez que estava longe de casa, da família e dos amigos, e Geraldes acabou por ser um apoio essencial para que as coisas lhe tivessem corrido tão bem que esta época Jorge Jesus quisesse o seu regresso a Alvalade.
O técnico leonino chama-lhe Saviola, por causa da estatura e do talento comum ao do avançado argentino, mas era com Messi que mais vezes era comparado, algo que Danielito nunca apreciou, pois como fez questão de dizer em várias entrevistas, Messi só há um. A grande referência no futebol acaba por ser o belga Eden Hazard, do Chelsea.
Daniel Podence estreou-se na equipa principal do Sporting num jogo da Taça de Portugal com o Sp. Espinho, em 2014, pela mão de Marco Silva, mas na I Liga foi pelo Moreirense que fez o primeiro jogo. Com ele, acompanham-no as superstições e o ritual de molhar o cabelo e a cara antes de cada jogo...