Veteranos de guerra britânicos afirmam-se negligenciados

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Chama-se Anthony Bradshaw e o pesadelo iraquiano não o deixa dormir. Sofre de stress de guerra, dizem-lhe os médicos. Stress pós-traumático. Ou seja, deixou de servir militarmente, depois de, enquanto soldado, ter engrossado as fileiras do Regimento de Pioneiros. De novo na vida civil, Bradshaw está agora entregue a si próprio e é o relato da negligência a que tem sido votado que o Sunday Times apresentava ontem como revelador da triste sina de muitos veteranos de guerra.

Em números redondos: pelo menos 1333 militares britânicos - homens e mulheres - regressaram do Iraque traumatizados. Com problemas do foro psiquiátrico. Como se não bastasse, estarão a ser descartados pela hierarquia castrense, não recebendo os devidos cuidados médicos. Sentem-se abandonados.

A palavra a Bradshaw: "Pensava que era capaz de receber ajuda do Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas foi como no Exército. Dão-nos alguns comprimidos e mandam-nos embora. Nunca recebi nenhum aconselhamento", afirma o jovem de 22 anos ao Sunday Times.

Depois de ter estado na linha da frente, mal se deu a invasão do Iraque, em Março de 2003 - construindo, com os colegas de logística, acampamentos em Baçorá - tem hoje ataques de pânico. "Fui soldado, mas agora, às vezes, sinto medo só por ir ao centro comercial."

Vozes críticas começam a denunciar esta negligência. Que já fez, pelo menos, uma vítima mortal. Peter Mahoney, que serviu no Iraque entre Março e Julho de 2003, regressou a casa diferente. Profundamente deprimido. Apesar de, durante o tempo em que esteve ausente, ter escrito à mulher, Donna, que tinha "planos para o futuro", suicidou-se, num dia de Agosto de 2004: vestiu o uniforme, pôs o motor do carro a funcionar, ligou uma mangueira ao tubo de escape e virou-a para dentro do carro... Na mão tinha um prospecto rasgado do Ministério da Defesa britânico sobre o trauma psicológico.

Há quem diga que não foi caso único, que se terão registado outros 15 suicídios de antigos militares, confrontados com os seus fantasmas e o choque da vida civil.

Fantasmas. Uns maiores do que outros. Os de David McGogh são de palmo e meio. Ainda hoje não esquece o sofrimento das crianças iraquianas. Ao jornal The Independent, o tenente recorda: "Algumas das crianças apresentavam queimaduras, outras estilhaços na pele, buracos de balas. Era muito stressante. Trabalhávamos 14, 16 horas por dia. Duas semanas depois do regresso, comecei a sentir-me muito mal. Ando a tomar Prozac..."

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