"Vou gritar bem alto contra todas as mentiras que o Sócrates nos tem dito". Agarrada a um megafone, uma trabalhadora da Função Pública parte de Évora rumo a Lisboa disposta a fazer ouvir o seu protesto contra as medidas de austeridade incluídas no Orçamento de Estado para 2011. É uma das cerca de 600 pessoas do distrito, entre trabalhadores, estudantes e reformados, que aproveitaram os autocarros fretados por organizações afectas à CGTP para integrar mais um protesto na baixa lisboeta..São 11 da manhã. No Rossio de São Brás, em Évora, rapidamente o autocarro que arranca deste ponto da cidade fica com lotação esgotada. A bordo viajam diversos trabalhadores das autarquias locais, cuja situação, assegura José Correia, é "ainda mais grave que a dos restantes funcionários da administração pública" pois o "garrote financeiro aos municípios" fará com que diversos trabalhadores contratados sejam dispensados no fim do ano.."Conheço casos de funcionários de juntas de freguesia que estão há 14 anos a contrato e que agora vão ser dispensados", diz José Correia, pouco antes de acertar os pormenores sobre o local de estacionamento dos 11 autocarros que partiram de Évora: "Paramos na Avenida da Liberdade e subimos para o Marquês de Pombal"..Muitos antes das 15h30 já o grupo de Évora se encontra no local de partida para o desfile da Frente Comum. O grupo de Évora e vários milhares de trabalhadores da Função Pública provenientes de todo o país, entre os quais um homem de Coimbra com um enorme crucifixo onde se pode ler "Sócrates, és a nossa cruz". "O Orçamento de Estado vai cortar em quem já ganha pouco", lamenta um dirigente sindical. .Da cidade de Coimbra partiram 8 autocarros rumo a Lisboa. De Faro foram 7. Do Porto, um pouco mais: 10 autocarros. "A crise não foi feita pelos trabalhadores mas somos nós que a estamos a pagar", frisa uma funcionária da administração pública de Beja. "A mobilização é boa e estamos a ganhar balanço para a greve geral do próximo dia 24. Se não estivesse já convocada, a participação neste protesto ainda seria maior", diz Ricardo Galhardo, coordenador da União de Sindicatos do Distrito de Évora..Só este ano, Manuel Inácio já conta com três viagens a Lisboa para participar em manifestações convocadas pela CGTP: foi em Maio, em Setembro e regressou ontem. "A gente sabe que pouco adianta mas pelo menos fazemos ouvir o nosso protesto". Ricardo Galhardo concorda: "Se ninguém se manifestasse, o Governo e algum patronato ainda vinham dizer que estas medidas gravosas tinham sido tomadas de acordo com os trabalhadores".