Esta é a 16.ª edição do IndieLisboa, com cerca de 250 filmes, dos quais mais de 50 são portugueses, presentes em toda a programação, entre estreias mundiais, estreias nacionais e primeiras obras. Destaque para vários filmes já exibidos em festivais internacionais, como Past Perfect, de Jorge Jácome, Campo, de Tiago Hespanha, e Alva, de Ico Costa, todos agora em competição. Haverá ainda uma antestreia de Hotel Império, de Ivo M. Ferreira, no âmbito de um programa dedicado aos 20 anos da transferência administrativa de Macau para a China (e serão exibidos três episódios de uma nova série daquele realizador, intitulada Sul), e a estreia da curta Invisível Herói, de Cristèle Alves Meira, antes de seguir para o festival de Cannes.."Desde a primeira edição, há um trabalho de reconhecimento do cinema que se faz em Portugal", afirmou Miguel Valverde, um dos programadores, na apresentação da programação deste festival, a propósito da presença de filmes portugueses nas várias secções do IndieLisboa e do aumento de obras selecionadas para a competição. A direção do IndieLisboa sustenta esse papel de plataforma de divulgação de filmes portugueses, mas também espaço de reflexão sobre práticas e produção do cinema português..Outros filmes portugueses em destaque na programação são o documentário Sou autor do meu nome Mia Couto, de Solveig Nordlund, Mar, de Margarida Gil, A minha avó trelototó, de Catarina Ruivo, Tragam-me a cabeça de Carmen M., de Felipe Bragança e Catarina Wallenstein, e Tristeza e alegria na vida das girafas, de Tiago Guedes (a partir da peça de teatro homónima de Tiago Rodrigues)..Uma viagem ao cinema de Pedro Costa.O realizador Júlio Alves estreia no festival o documentário Sacavém, um ensaio visual sobre o cinema de Pedro Costa, a partir de alguns objetos associados à rodagem dos filmes do autor. "Eu não estava a fazer um filme sobre Pedro Costa, mas uma viagem ao cinema dele, à estrutura, à forma como é concebido, sentido e construído", explicou o autor à Lusa..Sacavém, que integra a competição de longas-metragens, põe em diálogo excertos dos filmes de Pedro Costa, em particular os que se relacionam com o Bairro das Fontainhas, imagens dos objetos que lhe serviram de suporte e declarações de conversas entre os dois realizadores. "Se não fosse a sua participação jamais teria chegado àquele acervo no qual trabalhámos. Foi-me abrindo o seu espaço de trabalho, os objetos que o rodeiam. Foi um processo de paciência mútua", recorda Júlio Alves sobre os dois anos que demorou a cumprir este filme..No filme, Pedro Costa aparece de forma difusa e resguardada, com Júlio Alves a fazer sobressair sobretudo o pensamento do cineasta em relação ao ofício e ao processo de fazer cinema. É ele que diz que não quer fazer filmes inconsequentes e que "o cinema tem-se tornado muito impaciente". "Não só os filmes são impacientes, carregados de precipitação e de urgência, por vezes isso não ajuda, mas a maneira como se fazem os filmes tem sido muito... o tempo tem-se tornado um inimigo. (...) Devia ter o tempo do meu lado", ouve-se Pedro Costa dizer no filme..Anna Karina e "Brasil em transe".O IndieLisboa, que se apresenta já como "um festival generalista", contará com cerca de 250 filmes distribuídos pelas várias secções, como a retrospetiva dedicada à atriz Anna Karina, em parceria com a Cinemateca. A atriz, um dos rostos da Nouvelle Vague francesa, estará em Lisboa entre 5 e 9 de maio, estando previsto um encontro com o público no dia 8..Na apresentação desta edição, o programador Nuno Sena sublinhou uma das escolhas deste ano, sob o título "Brasil em transe", com mais de trinta filmes do recente cinema brasileiro. O objetivo é refletir sobre o presente e o futuro do cinema brasileiro. "Tem uma missão mais prospetiva do que retrospetiva. Percebemos que era impossível conter o cinema brasileiro num programa com 10, 20 filmes. É um país em que a produção ultrapassa as duas centenas por ano, com uma produção independente fortíssima", afirmou..É neste programa que serão mostrados filmes de Petra Costa, Helvécio Marins Jr., Gustavo Vinagre e Rodrigo Carneiro e André Novais Oliveira. Alguns deles estarão presentes numa mesa-redonda, no dia 11 de maio..A música portuguesa no ecrã.No "IndieMusic", entre outros, serão mostrados os documentários Um Punk Chamado Ribas, de Paulo Antunes, sobre João Ribas, músico dos Censurados e dos Tara Perdida, e Ela é uma música, de Francisca Marvão, que contará com um concerto, no dia 10, nas Carpintarias de São Lázaro, com mulheres que fizeram e fazem o rock nacional: Lena d'Água, Adelaide Ferreira, As Gaijas, The Dirty Coal Train, Anarchicks, Panelas Depressão, Clementine, Decibélicas, Matriarca Paralítica e Aurora Pinho..O realizador português Edgar Pêra mostra no festival três episódios da série audiovisual Arquivos Kino-Pop, que documenta a história recente do pop rock português, na década de 1980. A série foi estruturada a partir das milhares de horas de filmagens que Edgar Pêra tem feito, de forma consistente e obstinada, há mais de trinta anos, e funciona como um documento visual e social de uma época da música portuguesa, com imagens inéditas e raras..Arquivos Kino-Pop, a série, apresenta 13 episódios, como o que é dedicado a Pedro Ayres Magalhães, fundador dos Madredeus e dos Heróis do Mar, e o que regista o último concerto no espaço Rock Rendez-Vous, protagonizado por Farinha Master. "Isto nasceu da minha vontade de registar aquilo que se passa à minha volta. Como a maior parte dos meus amigos era de bandas - rock, pop ou bandas punk -, eu acabei por acompanhar bastantes desses meus amigos em 'tournées', ensaios", explicou Edgar Pêra à agência Lusa..A série, que será exibida ainda em maio no canal televisivo por cabo Canal 180, e estará em junho para visualização gratuita onlanna ine, inclui, por exemplo, imagens da rodagem do teledisco Dunas, dos GNR, os primeiros ensaios dos Irmãos Catita, em casa de Manuel João Vieira, ou a atuação de Carlos Paredes num concerto dos Madredeus no Coliseu de Lisboa. "Sempre tive noção bastante exata do valor dos arquivos, porque na altura não havia mais ninguém com câmaras. (...) Os testemunhos eram únicos e os momentos eram únicos, no fundo foi o eclodir da música no início dos anos 1980 e que correspondeu a uma espécie de continuação do que tinha sido o 25 de Abril, mas desta vez não feito pelas pessoas mais velhas, mas pelas pessoas mais novas", disse o realizador..Nestes "cine-diários", como refere Edgar Pêra, há ainda, entre outros, registos de um concerto dos Delfins em Cascais, em 1986, uma atuação de Jorge Bruto e os Capitão Fantasma, em Lisboa, imagens dos Xutos & Pontapés e de Rão Kyao. Revendo estes 'cine-diários', o realizador diz que, do ponto de vista profissional, não há saudosismos: "Não tinha meios para fazer o que quer que seja, e tinha de ser através da minha própria iniciativa, inspirada no 'do it yourself' das bandas, e no fundo tentava fazer o mesmo que eles. Era o terror", recordou..E muito mais.No IndieJúnior, um festival dentro do IndieLisboa, estão previstas duas sessões especiais para os mais novos: uma composta por 'curtas' clássicas do cinema polaco de animação, dos anos 1960, e um filme-concerto com um trio de músicos da Casa da Música a tocarem para filmes de Charles Chaplin e Buster Keaton..No âmbito do festival será exibida em Portugal a vídeo-instalação Walled Unwalled, do artista jordano Lawrence Abu Hamdan, um dos quatro finalistas do prémio Turner 2019, anunciados na passada quarta-feira. A obra, citada pelo júri do prémio, examina uma série de casos legais em que foram obtidas provas em paredes, portas e pavimentos, demonstrando que estas estruturas são reveladoras por si mesmas, e estabelecem cada vez menos barreiras entre o espaço público e privado. Em 2016, o festival IndieLisboa apresentara outra curta-metragem de Hamdan, Rubber Coated Steel, um documentário sobre a morte de dois adolescentes palestinianos e a investigação feita pela organização Defence for Children International..O IndieLisboa decorrerá até ao dia 12, na Culturgest, no Cinema São Jorge, na Cinemateca Portuguesa, no Cinema Ideal e nas Carpintarias de São Lázaro, onde desembocará a programação paralela de concertos e festas.