Almeida, que nega veementemente as acusações, também pediu investigações àqueles organismos e iniciou ação em tribunal contra o Me Too Brasil. “Repudio com absoluta veemência as mentiras que estão sendo assacadas contra mim. Repudio tais acusações com a força do amor e do respeito que tenho pela minha esposa e pela minha amada filha de um ano de idade, no meio da luta que travo, diariamente, em favor dos direitos humanos e da cidadania neste país”, afirmou em vídeo.
“Toda e qualquer denúncia deve ser investigada com todo o rigor da Lei, mas para tanto é preciso que os factos sejam expostos para serem apurados e processados. E não apenas baseados em mentiras, sem provas (...) sempre lutarei pela verdadeira emancipação da mulher e vou continuar lutando pelo futuro delas. Falsos defensores do povo querem tirar aquele que o representa. Estão tentando apagar a minha história com o meu sacrifício”.
Anielle Franco não se pronunciará até conversar com Lula pessoalmente sobre o suposto assédio de Sílvio de Almeida num encontro marcado já para depois do fecho desta edição.
Franco e Almeida são dois dos quatro ministro negros do governo, o que levou Basília Rodrigues, jornalista, negra, da CNN, a lamentar o facto. “O negro no Brasil está sempre por baixo. Morto, ou acusado de matar; pobre, ou acusado de roubar; sem espaço, ou acusado de invadir. A história que ganhou tamanho nas últimas horas traz dois negros como protagonistas de algo ruim”, escreveu.
Entretanto, o painel “Bibliotecas na formação de um mundo melhor”, integrado na 27.ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, mantém os ministros Anielle Franco e Silvio Almeida como palestrantes na tarde de domingo, dia 8.
A notícia do assédio foi inicialmente divulgada por uma reportagem do jornal Metrópoles na noite de quinta-feira, dia 5, já madrugada em Portugal, publicada após ter ouvido 14 pessoas, entre ministros, assessores do governo e amigos de Anielle Franco sobre os supostos episódios de assédio, que incluiriam toque nas pernas da ministra, beijos inapropriados ao cumprimentá-la, além de o próprio Silvio Almeida ter, alegadamente, dirigido à colega de governo expressões com conteúdo sexual. Todos os episódios teriam ocorrido no ano passado.
Em nota, a organização de defesa das mulheres vítimas de violência sexual, Me Too Brasil, confirma, com o consentimento das vítimas, que recebeu denúncias de assédio sexual contra o ministro. Elas foram atendidas por meio dos canais de atendimento da organização e receberam acolhimento psicológico e jurídico.
“Como ocorre frequentemente em casos de violência sexual envolvendo agressores em posições de poder, essas vítimas enfrentaram dificuldades em obter apoio institucional para a validação das suas denúncias. Diante disso, autorizaram a confirmação do caso para a imprensa”, diz a organização em comunicado.
“Vítimas de violência sexual, especialmente quando os agressores são figuras poderosas ou influentes, frequentemente enfrentam obstáculos para obter apoio e ter as suas vozes ouvidas. Devido a isso, o Me Too Brasil desempenha um papel crucial ao oferecer suporte incondicional às vítimas, mesmo que isso envolva enfrentar grandes forças e influências associadas ao poder do acusado”, prossegue a nota.
“A denúncia é o primeiro passo para responsabilizar judicialmente um agressor, demonstrando que ninguém está acima da lei, independentemente de sua posição social, económica ou política. Denunciar um agressor em posição de poder ajuda a quebrar o ciclo de impunidade que muitas vezes os protege”.