A Alternativa para a Alemanha (AfD) venceu as eleições regionais na Turíngia e ficou em segundo na Saxónia, confirmando um abalo político que as sondagens previam. Além de carregados de simbolismo -- é a primeira vez desde o fim do regime nazi que um partido de extrema-direita vence um sufrágio --, os resultados são também uma forte advertência aos três partidos da coligação governamental liderada por Olaf Scholz.
“Estamos prontos para assumir a responsabilidade do governo”, disse o líder da AfD na Turíngia, Björn Höcke. O controverso ex-professor de História, multado este ano em duas ocasiões por usar palavras de ordem nazis, ambiciona ser o primeiro político da AfD a chefiar um governo de um dos 16 estados federais da Alemanha. Isto apesar de ter perdido o mandato direto: no seu círculo eleitoral, Greiz II, foi derrotado pelo candidato da CDU. Será, todavia, eleito de forma indireta.
“A nossa mão está estendida. Também estamos dispostos a fazer compromissos", disse Höcke na TV, referindo-se á CDU, a segunda maior força. No entanto, como era de esperar, os democratas-cristãos fizeram saber, através do secretário-geral Carsten Linnemann, que não estão disponíveis para se aliar à AfD em caso algum.
A formação de um governo na Turíngia deverá ser um quebra-cabeças, como aconteceu em 2019 e prosseguiu nos meses seguintes. O Die Linke vencera as eleições mas perdera peso e nenhuma coligação vingou. A solução encontrada foi eleger chefe do governo o liberal Thomas Kimmerich, cujo partido havia obtido 5%, com os votos da CDU e da AfD, segunda e terceira forças respetivamente. A controvérsia foi tal que, três dias depois de eleito, Kimmerich demitiu-se, tendo o ex-comunista Bodo Ramelow foi reeleito, num acordo de governo com CDU, Verdes e SPD.
Na Turíngia, com 2952 mesas de voto apuradas em 2976, a AfD liderava com 33%, seguida da CDU (23,6%), do novo partido populista de esquerda Aliança Sahra Wagenknecht (BSW, 15,9%) e do Die Linke (A Esquerda, 12,9%). Nesta região do leste alemão com pouco mais de dois milhões de habitantes, os sociais-democratas (SPD), os Verdes e os liberais (FDP) já eram minoritários, mas a tendência acentuou-se. Os três partidos que formam a coligação governamental tiveram em conjunto pouco mais de dez pontos percentuais.
Na Saxónia, também a leste mas com o dobro da população, as projeções indicavam que os conservadores da CDU iriam ser os mais votados. No entanto, quando estavam apurados 63% dos votos, a AfD liderava com 34,8%, seguindo-se a CDU com 33,3%. Também aqui a BSW seguia em terceiro (12,2%).
As eleições deste domingo foram marcadas pelo debate sobre imigração dias depois de um sírio com ordem de expulsão do país ter sido detido, suspeito do ataque à facada em Solingen, e no qual morreram três pessoas. O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, durante a cerimónia de homenagem às vítimas naquela cidade da Renânia do Norte-Vestefália, fez um apelo ao controlo da imigração. ”Só podemos continuar a ser este país se não formos sobrecarregados pelo número de pessoas que vêm sem ter direito a esta proteção especial”, disse em referência ao asilo político.