O primeiro encontro de Evelyn Kahn com a fotografia aconteceu muito cedo, tinha 7 anos quando recebeu a primeira máquina fotográfica, um presente dos pais, e desde então nunca mais parou de fotografar. Mas daí a assumir o seu lado artístico passaram umas décadas, com a vida familiar e um Curso de Design de Interiores pela Fundação Ricardo Espírito Santo a meterem-se pelo meio. Quando chegou aos 50 anos decidiu tirar um curso na ArCo (1998-2001), sem perceber o quão intenso e transformador seria. “Foram três anos de estudo ao lado de colegas muito mais novos e posso dizer que foi das melhores coisas que fiz na vida, porque ter a sensibilidade e o olhar é uma coisa, dominar a técnica e saber realmente o que estamos a fazer, é outra”, conta. A partir daí, sim, a fotografia artística assumiu-se como permanente para Evelyn Kahn.
A sua primeira exposição individual, Impressões, decorreu em 2013. Agora, em 2024, regressa a expor no Museu Medeiros e Almeida, em Lisboa, com a maior exibição em nome próprio: 41 fotografias tiradas em tempos e lugares diferentes sob o título Improvável. Patente até 9 de novembro, a mostra “explora os elementos do acaso e os jogos entre o realismo e a abstração”, como se pode ler na apresentação da exibição.
À conversa com o DN numa das três salas que o museu lhe dedica, acrescenta: “Gosto da beleza dos detalhes, fascinam-me as texturas, os reflexos, a luz. Bem sei que a beleza é subjetiva, mas, à minha maneira, sinto uma necessidade, quase uma urgência, de transformar o feio em belo. Acredito que a beleza está em toda a parte, seja numa parede decadente, numa lixeira, mas também no sorriso de uma criança, num olhar de um desconhecido.”
São esses improváveis que juntam as fotos lado a lado na exposição. De uma parte de um contentor gigante em Marvila, a um teatro abandonado em Marraquexe, a um detalhe num quarto de hotel. Essas são parte das improbabilidades da exposição.
“A vida é feita de acasos felizes, ou, por vezes, infelizes, é feita de encontros improváveis, e esta exposição é simplesmente o reflexo da forma como olho a vida. Como o meu pai sempre me disse, a vida pode ser muito dura, mas de um limão pode sempre fazer-se uma limonada, e isso ficou gravado em mim.”