Um discreto funcionário da embaixada do México no Equador tornou-se o improvável protagonista do aumento das tensões na América Latina, uma região do globo em transe nos últimos meses: Roberto Canseco foi agredido e derrubado por um grupo de encapuzados que invadiram o local, na noite de sexta-feira, 5 de abril. Os encapuzados eram agentes da polícia equatoriana a cumprir ordens do presidente Daniel Noboa para retirarem à força Jorge Glas, um político de oposição condenado por corrupção, que se refugiara no espaço diplomático mexicano em Quito.
Andrés Manuel López Obrador, presidente do México, chamou o ato de “invasão” e de “violação” e rompeu relações com o Equador. Outros líderes regionais fizeram coro na condenação. E a Organização dos Estados Americanos (OEA) mostrou solidariedade com o México por 29 votos a favor e um contra, o do Equador. Noboa falou em “risco de fuga” para justificar a ação policial, sem dar mais detalhes ou apresentar provas.
Glas, que já cumpriu quatro anos de cadeia por envolvimento num escândalo de subornos com a construtora brasileira Odebrecht, tentou suicídio, segundo a advogada, antes de optar por uma greve de fome numa prisão em Guayaquil.
As tensões bilaterais na América Latina estão longe, porém, de terminar aqui. Uma semana depois, Gabriel Boric, presidente do Chile, chamou o embaixador chileno em Caracas para consultas, depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros venezuelano dizer que o gangue Tren de Aragua, fundado na Venezuela, era “ficção mediática”.