Vários economistas avisam que Alemanha pode demorar a sair da atual armadilha da estagnação e recessão, de baixo potencial de crescimento uma vez que precisa de se reinventar novamente, fazer investimentos estruturais que estão em falta, reduzir a dependência ainda elevada em relação ao gás e ao petróleo.
"A Alemanha deve adaptar o seu modelo económico para se adaptar aos novos tempos", afirma o gabinete de estudos do banco BPI.
"Na década anterior à pandemia, o desempenho económico da Alemanha foi impulsionado por políticas bem-sucedidas destinadas a promover as Pequenas e Médias Empresas (PME), pelo dinamismo do sector industrial assente no fornecimento barato de gás russo, pela capacidade de produzir bens de alta qualidade, especialmente automóveis, e pela forte orientação para a exportação".
"Este modelo está, no entanto, ameaçado pelo abrandamento do comércio mundial, pelas guerras aduaneiras, pela emergência de novos rivais (nomeadamente a China) e pelo fim do acesso ao gás russo", avisam os mesmos analistas.
Quem está radicado na Alemanha está mais inquieto. É o caso de Klaus Wohlrabe, economista sénior do influente Instituto de Estudos Económicos (Ifo), sediado em Munique.
"A percentagem de empresas alemãs que temem profundamente pela sua sobrevivência económica aumentou para 7,3%", conclui o novo estudo. "É provável que o aumento constante das insolvências empresariais na economia alemã se mantenha", afirma o economista.
"Para além da falta de encomendas, a crescente pressão competitiva internacional está a perturbar de tal forma muitas empresas que estas vêem o seu futuro gravemente em risco”, acrescenta Klaus Wohlrabe.
"O número de insolvências empresariais está muito acima do nível dos anos anteriores", "a falta de encomendas em todos os sectores está a conduzir a consideráveis estrangulamentos de liquidez" e, ao mesmo tempo, "a combinação entre os elevados custos da energia e a crescente concorrência internacional está também a ter um impacto particularmente negativo".
O medo de não sobreviver afeta principalmente "a indústria transformadora, onde 8,6% das empresas reportam graves problemas económicos, quando no ano passado, o número foi 6,4%".
A Alemanha, sabe-se agora através da Comissão Europeia, terá caído novamente em recessão, em 2024, com um deslize de 0,1%, naquele que é o terceiro retrocesso económico em cinco anos, apenas.
O primeiro foi em 2020 por causa da pandemia, o segundo foi em 2023, quando ficou exposta a fratura inflacionista provocada pelo aumento dos preços da energia (muita dela russa) e, já este ano, (como no precedente), por causa da fragmentação no comércio mundial e com o fosso crescente entre Ocidente e amigos da NATO e outros (China, Rússia, etc.). A Alemanha é um exportador nato, por assim dizer.
Para Portugal, trata-se de uma situação delicada por causa dos impactos diretos que acontecem por diversas vias.
A mais crítica é a do comércio externo. A relação muito antiga entre Alemanha e Portugal radica num modelo de captação de investimento (cá), sobretudo em indústrias de alta intensidade tecnológica, que depois exportam quase tudo o que produzem para o mercado alemão e o resto do mundo.
Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), descolou-se a Estugarda esta semana para participar na Automotive Interiors Expo, "uma importante feira do setor da Europa onde está representada a cadeia de valor da indústria automóvel especializada em componentes e sistemas de interiores automóveis". Com ele foram quatro empresas: Bramp, Fehst, Maxiplás, Trim NW.
Ainda há algum otimismo no ar. “A Alemanha é um dos principais parceiros de Portugal, contudo, é recomendável uma abordagem estratégica, estruturada e persistente ao mercado. Em termos de oportunidades de negócios, é um mercado interessante para a economia digital, soluções energéticas, mobilidade e transportes, saúde, vestuário, têxteis, calçado, semicondutores, entre outros" e, além disso, tem "um elevado poder de compra", remata o responsável empresarial.