Os futurólogos que imaginam as cidades de amanhã vaticinam, há muito tempo, mais espaço para pessoas e jardins e menos para os carros, que se tornarão mais raros, mais pequenos e menos poluentes. Mas o que a realidade mostra é algo diferente: os automóveis estão, afinal, a ocupar mais espaço. “A cada dois anos, os novos carros estão a crescer, em média, um centímetro”, sendo que entre 2018 e 2023 foram mais dois centímetros, revela um estudo da ONG Transport & Environment (T&E) publicado recentemente. E a mesma análise, que compara dados desde o ano 2000, prevê a manutenção desta tendência, alinhada com o contínuo aumento das vendas de SUV, com impactos negativos no espaço disponível nas cidades, na pegada carbónica e na fatalidade em caso de acidente.
É neste contexto que algumas cidades europeias como Lyon, em França, ou Tübingen, na Alemanha, já decidiram agravar o custo do estacionamento anual para esta classe de veículos. No primeiro caso, custa mais 15 euros por ano e mais 30 euros do que a um veículo elétrico. Já a cidade alemã cobra mais 50% em parques residenciais, desde 2022. E a própria associação de municípios germânicos defende a política de agravamento do custo do parqueamento com base no tamanho, significando que este deverá tornar-se uma tendência a curto prazo na Alemanha.
Dentro de dias, a 4 de fevereiro, será a vez de o Município de Paris referendar a triplicação do preço de estacionamento para os SUV e pick-ups de forma a fazê-los compensar o espaço extra que ocupam e a desincentivar o seu uso, que também acarreta mais poluição. O que está em cima da mesa é um valor de 18 euros por hora no centro de Paris e de 12 euros nas restantes áreas. A crer nos resultados de um inquérito recente sobre o assunto, em que 60% a 70% dos parisienses se mostram favoráveis àquela solução - se as receitas adicionais forem alocadas a uma mobilidade mais sustentável Paris será, muito provavelmente, a primeira capital europeia a liderar esta nova vaga.
E a capital portuguesa? “A Câmara Municipal de Lisboa não está neste momento a ponderar qualquer alteração nesta matéria”, disse ao DN o gabinete do vice-presidente com o pelouro da Mobilidade. Seja como for, o tema promete continuar na agenda europeia, pressionado por organizações ambientalistas e não só.