O País e as contas públicas portuguesas vão violar o Pacto de Estabilidade (a nova regra de travão da despesa pública, a margem “disponível” para a despesa) já na sua estreia, em 2025, na sequência das medidas que têm vindo a ser aprovadas pelo governo PSD-CDS e pela oposição nas últimas semanas (medidas que aumentam despesa e descem receita), e cujos os efeitos se propagam no tempo, alerta o Banco de Portugal (BdP), num estudo publicado esta sexta-feira. E tudo isto ainda sem contar com o efeito da revisão das carreiras para várias classes profissionais da função pública, que pode abranger mais de 220 mil pessoas.
De acordo com o referido estudo, publicado no novo Boletim Económico do banco central governado por Mário Centeno, Portugal vai violar de forma flagrante a tal nova regra da despesa: a margem da despesa aceitável à luz do novo Pacto, o máximo admissível, segundo o novo quadro legal europeu, é de 5385 milhões de euros, calcula o BdP com base numa estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) potencial.
Mas os mesmos cálculos do BdP também mostram que “o excesso do referencial da despesa face à margem disponível será superior a 2070 milhões de euros (superior a 0,7% do PIB)”. Problema: Portugal, por ter uma dívida ainda muito acima dos 60% do PIB, só pode ter um excesso no máximo de 0,3% do PIB, segundo o novo Pacto.
Ou seja, o BdP mostra que se nada for feito para corrigir esta situação - “novas medidas que permitam reduções na despesa e/ou aumentos da receita”, indica o Banco - então o País estreia-se no novo Pacto a violar o valor do indicador principal referente à despesa em mais do dobro.
Na apresentação do Boletim Económico, no Museu do Dinheiro, em Lisboa, Mário Centeno falou deste novo estudo ou cenário sobre as finanças públicas e o Pacto, referindo que o BdP está a tentar ser “pedagógico” e mostrar os riscos reais que se colocam mediante as medidas que estão a ser tomadas.
“Apesar do excedente orçamental registado em 2023 [1,2% do PIB, o maior da História democrática], não deverá haver margem, segundo as novas regras orçamentais, para aumentos de despesa ou reduções de impostos que não sejam compensados por outras medidas, especialmente se cenários macroeconómicos adversos se concretizarem”, avisa o Banco.
“O rácio da dívida pública ainda é muito elevado e os efeitos do envelhecimento da população na despesa pública, já visíveis, irão acentuar-se nas próximas décadas.”
Mas o problema da violação da principal regra do novo Pacto é maior do que se vê. Ele pode conduzir a uma degradação da credibilidade do País, a comentários cada mais negativos e hostis da Comissão Europeia e de altos responsáveis de instituições como FMI, BCE ou OCDE, e, não menos importantes, as opiniões mais negativas por parte das agências de rating, que podem baixar a nota da República, agravando imediatamente as taxas de juro cobradas ao país.