"Já passaram 50 dias desde a submissão do meu pedido. Submeti-o no dia 1 de julho – faltavam documentos que não era possível obter na altura e que enviei mal ficaram disponíveis – e até agora a resposta que obtenho é para prestar atenção aos emails… Que não chegam, apesar de a lei indicar 30 dias como limite para a resposta. E o pior é que não nos dizem nada.”
Este é um dos testemunhos no grupo de Facebook “Senhorios – rendas anteriores a 1990”, no qual proprietários nessas circunstâncias, e que estão a tentar obter a compensação legislada no âmbito do Programa Mais Habitação como contrapartida do “congelamento definitivo” dessas rendas, dão dicas uns aos outros sobre como navegar um processo cujo prazo se iniciou a 1 de julho e que, acusam, “foi feito para dificultar ao máximo a vida aos senhorios, para que as pessoas desistam ante toda esta burocracia e o Estado compense o menor número possível. Os senhorios continuam a ser um saco de pancada. Uma vergonha!”
O testemunho citado, de 20 de agosto, é de Irene, 59 anos, proprietária de um T2 na Amadora herdado dos pais e pelo qual o inquilino, que entrou em 1967, paga 53 euros. Irene conta receber 144 euros de compensação – a diferença entre a renda atual e os 197 euros que resultam da aplicação da fórmula prevista na lei, baseada no valor patrimonial tributário (VPT) do imóvel. O qual, no caso deste T2, não chega a 37 mil euros (os valores patrimoniais muito baixos são frequentes nos edifícios antigos; por essa razão uma boa parte dos proprietários com rendas congeladas não terá sequer direito a compensação, como um estudo encomendado pelo anterior governo antecipava, sendo a média mensal estimada da subvenção estatal de apenas 161 euros).
Irene suspira: “Pago impostos, condomínio, seguros, etc, perco dinheiro”. Os esperados 144 euros mensais não irão melhorar muito significativamente a situação, mas até agora nem sequer sabe se o seu requerimento foi considerado válido; apesar de já ter expirado o prazo legal, o Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), encarregado de gerir o processo, não a esclarece – nem ao DN, que o questionou esta terça-feira sobre estes atrasos, o número de requerimentos entrados até meio de agosto e a quantos deu resposta.
Maria, 37 anos, está na mesma situação de Irene. Proprietária de um T3 em Oeiras com 80 m2 cuja inquilina, que ali reside desde 1975, paga 128,33 euros, espera receber uma compensação mensal de 185,89 euros (o VPT do locado é 56 560 euros, 1/15 do VPT são 3770,66 euros, que a dividir pelos doze meses do ano dá 314,22 euros, aos quais se subtrai a renda que a inquilina paga). Entregou o requerimento a 15 de julho. Mas 35 dias e duas solicitações de esclarecimento depois continua na mesma.