Opositor venezuelano
08 setembro 2024 às 10h00
Atualizado em 08 setembro 2024 às 15h42
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Exílio. Edmundo González já está em Espanha

Candidato da oposição venezuelana estava escondido há um mês. María Corina Machado prometeu continuar a luta política no país, ao passo que o candidato do anti-chavismo, Edmundo González Urrutia, vai continuar a luta no exterior.

O avião da Força Aérea Espanhola que transportou o candidato da oposição às eleições presidenciais da Venezuela Edmundo González Urrutia aterrou na Base Aérea de Torrejón de Ardoz, em Madrid, por volta das 16:00 (às 15h00 em Lisboa).

Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros, González, que viajou acompanhado da mulher e do secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Globais, Diego Martínez Belío, foi recebido pela secretária de Estado para a América Latina e Espanhol no Mundo, Susana Sumelzo.

"A partir de agora terão início os procedimentos para o pedido de asilo, cuja resolução será favorável no interesse do compromisso de Espanha com os direitos políticos e a integridade física de todos os venezuelanos, especialmente dos líderes políticos", refere a nota do Ministério.

María Corina Machado, líder da oposição na Venezuela, prometeu continuar a luta política no país, ao passo que o candidato do anti-chavismo, Edmundo González Urrutia, vai continuar a luta no exterior.

"Que isto fique muito claro para todos: Edmundo lutará desde o exterior, junto à nossa diáspora, e eu seguirei lutando aqui, junto a vós", escreveu Machado na rede social X, na mesma altura em que Urrutia aterrava em Madrid para pedir asilo político a Espanha.

O candidato à presidência da Venezuela pela Plataforma Unitária Democrática (PUD) saiu do país porque "a sua vida corria perigo" e por causa das "crescentes ameaças", depois de uma ordem de prisão contra si e de acusações sobre a publicação de resultados eleitorais online que alegadamente comprovam a derrota de Nicolás Maduro nas presidenciais de julho.

"Perante esta realidade brutal, é necessário para a nossa causa mantê-lo em liberdade, e preservar a sua integridade e a sua vida", afirmou Machado, citada pela agência espanhola de notícias, a Efe, concluindo que "as tentativas de chantagem e de coação de que foi vítima mostram que o regime não tem escrúpulos nem limites na sua obsessão de silenciá-lo e tentar vergá-lo".

González Urrutia – que contestou a reeleição do Presidente Nicolas Maduro, a 28 de julho – estava escondida há um mês, ignorando três convocatórias sucessivas para comparecer perante os procuradores e argumentar que a participação aa audiência poderia custar a sua liberdade.

“Depois de se refugiar voluntariamente na embaixada espanhola em Caracas há alguns dias, (González Urrutia) pediu o asilo político espanhol”, disse o vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodriguez, nas redes sociais, acrescentando que Caracas tinha concordado com a sua passagem segura.

O ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel Albares, disse no X que, a seu pedido, González Urrutia partiu num avião militar espanhol, acrescentando que Espanha estava "comprometida com os direitos políticos" de todos os venezuelanos.

Em declarações à televisão espanhola durante uma breve escala em Omã a caminho da China, Albares reafirmou que Espanha concederá "naturalmente" o asilo político ao candidato da oposição às eleições presidenciais da Venezuela.

"O Governo vai naturalmente [...] concedê-lo", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol.

O advogado de González Urrutia, José Vicente Haro, também confirmou à AFP que o candidato da oposição tinha viajado para Espanha, recusando-se a comentar mais detalhes.

Já o alto representante da União Europeia para os Assuntos Externos, Josep Borrell, disse que hoje "é um dia triste para a democracia", após ser confirmado o exílio do candidato presidencial venezuelano Edmundo González em Espanha.

A Venezuela está em crise política desde julho, quando as autoridades declararam Maduro o vencedor das eleições. 

A oposição venezuelana e diversos países da comunidade internacional denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente, o que o CNE diz ser inviável devido a um "ciberataque" de que alegadamente foi alvo.

Os resultados eleitorais têm sido contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo de cerca de duas mil detenções e de mais de duas dezenas de vítimas mortais.

Após a eleição, os procuradores venezuelanos emitiram um mandado de detenção a González Urrutia por causa da sua insistência de que ele foi o vencedor legítimo das eleições.

Falando numa reunião do partido socialista no sábado, o primeiro-ministro Pedro Sanchez descreveu González Urrutia como “um herói que Espanha não vai abandonar”.