Nos últimos sete dias, foram registadas mais 775 mortes do que o antecipado. Um número que está “muito acima do esperado”, revela o site oficial do Ministério da Saúde para a vigilância da mortalidade (evm.min-saude.pt). Só ontem, até às 19.00 horas tinham sido registados 351 óbitos de todas as causas, sendo que 53 tinham ocorrido na faixa abaixo dos 70 anos. O último relatório do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), divulgado na quinta-feira à noite, também o confirma.
“A mortalidade por todas as causas está com valores acima do esperado desde a semana 51/2023 e nos grupos etários a partir dos 45 anos”. A Direção-Geral da Saúde, num comunicado enviado ontem ao início da noite, assume também que, na última semana, se manteve “o aumento de consultas e episódios de urgência por infeções respiratórias agudas e síndrome gripal, sobretudo nos grupos etários mais velhos, acompanhado de internamentos” e que a proporção de casos de gripe em Unidades de Cuidados Intensivos também aumentou.
A nota refere mesmo que se “observa um excesso de mortalidade geral semanal por todas as causas elevado em Portugal, com maior expressão na população com idade superior a 65 anos”, desde a semana 51 de 2023. E explica: “Os indicadores traduzem um impacto da epidemia de gripe sazonal intensa e com tendência crescente”, sendo que “o impacto nos serviços de saúde e a mortalidade será visível até que a atividade epidémica de gripe regresse a níveis basais. O padrão epidémico da gripe retoma algumas semelhanças com o período pré-pandémico”.
Costuma ser assim em janeiro, o cenário só foi diferente com a pandemia provocada pelo SARS-CoV-2. A causa são as infeções respiratórias e anos houve, entre 2010 e 2019, em que este período foi tão mortífero, como no inverno de 2014-2015, que chegou a haver um excesso de cinco mil mortes em relação ao ano anterior.
As razões para a mortalidade excessiva nesta época do ano estão a ser estudadas pelo Instituto Superior Técnico (IST) e por um grupo de médicos.
Para já, uma das conclusões é a de que é preciso planear, prevenir e reforçar os serviços e os cuidados de saúde para se fazer frente ao pico das infeções respiratórias em janeiro e para que não haja esperas de 10 a 24 horas por parte dos doentes nos Serviços de Urgência - como tem acontecido em unidades de quase todo o país, e sobretudo nas da Região de Lisboa e Vale do Tejo - e para que os prognósticos possam ser feitos mais rapidamente e os tratamentos iniciados mais precocemente. Isto porque, uma das causas que o matemático do IST aponta para o excesso de mortalidade é, precisamente, a saturação dos serviços de saúde.
O professor, que analisou também a evolução da covid-19 e a mortalidade provocada por esta, afirmou ao DN considerar que existem quatro fatores que podem estar na origem do excesso de mortes em Portugal. A saber: menos vacinação, menos imunidade natural, maior envelhecimento da população e mais serviços saturados - consequentemente, menos cuidados de saúde.
Henrique Oliveira começa por explicar que, este ano, e de acordo com os dados oficiais , a taxa de cobertura vacinal acima dos 65 anos é da ordem dos 62%, quando deveria ser de 75%. Ou seja, “há cerca de menos 900 mil pessoas vacinadas contra a gripe do que deveria haver. Por outro lado, tivemos três anos de covid-19 e menos gripe, logo há menos imunidade natural contra este vírus. Associado a isto há o envelhecimento natural da população, mais pessoas vulneráveis, bem como mais saturação nos serviços de saúde e menos cuidados”.