Entrevista à TVI/CNN Portugal
10 outubro 2024 às 20h56
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Ventura diz que Montenegro propôs acordo sobre OE com promessa de integrar Governo. PM desmente

O primeiro-ministro desmentiu o líder do Chega logo após o final da entrevista: "O que acaba de ser dito pelo Presidente desse partido é simplesmente mentira."

O líder do Chega, André Ventura, afirmou esta quinta-feira, em entrevista à CNN que Luís Montenegro "mentiu" e garantiu que o primeiro-ministro negociou o Orçamento do Estado com o partido, para além de ter admitido o Chega no Governo.

"Estou farto e o Chega está farto de ser espezinhado", afirmou, referindo-se à ideia de que não haveria negociações entre o Governo e o Chega para viabilizar o Orçamento do Estado (OE2025).

“Eu sempre disse que ou haveria um acordo a quatro anos ou não haveria”, garantiu o líder do Chega, referindo-se à sua posição desde as eleições legislativas, que garantiram uma maioria no Parlamento à direita.

"Não aceito que o primeiro-ministro nos engane desta forma e nos espezinhe desta forma”, sublinhou André Ventura, defendendo que Luís Montenegro “escolheu dois parceiros: escolheu um preferencial público e um preferencial privado”.

Questionado sobre declarações suas anteriores em que tinha dito que faria tudo para evitar uma crise política, André Ventura defendeu-se com as suas declarações atuais.

“Com esse ambiente todo, fizemos questão de evitar uma crise política até ao fim”, lembrou,  apontando que, “ainda assim", o partido disse ao Governo "mudem este Orçamento”.

André Ventura reforçou a ideia de que Luís Montenegro "quis enganar o Chega" e assegurou que o Orçamento que defende não é à sua medida,"é à medida do Parlamento e à medida do país”, aludindo aos resultados das eleições legislativas.

O líder do Chega foi mais longe e assegurou que "o primeiro-ministro negociou com o Chega, quis negociar com o Chega" e chegou a propor "um acordo para este ano", contemplando a possibilidade de mais  à frente o Chega "integrar o Governo".

Pouco depois do final da entrevista, Luís Montenegro reagiu na rede social X e negou qualquer tipo de acordo, classificando as declarações de André Ventura como "mentira".

Ainda sobre o Orçamento, André Ventura afirmou que “o país tem aqui a sua resposta sobre a abertura que o Governo nunca teve” para negociar um Orçamento à direita, acusou.

André Ventura garantiu também que o Chega não vai "dar aval a este Orçamento" e explicou, em primeiro lugar, que o fazia porque o documento "não é forte contra a imigração".

Contra a imigração e o peso dos "subsídios ilegais"

"Quer orçamento é este?", questionou o líder do Chega, de forma retórica, confrontado com as justificações dadas pelo primeiro-ministro para não negociar o documento com o Chega, chegando a acusar André Ventura de ser "cata-vento".

“Hoje o país fica a saber que [Luís Montenegro] tem várias palavras – umas públicas e outras privadas – sobre o Orçamento”, continuou o também deputado do Chega.

André Ventura assumiu que o partido está disponível para, na especialidade, votar favoravelmente "todas as propostas que baixem impostos em Portugal".

“O Chega não vai para o Parlamento para alinhar com A, B ou C. Tem um programa próprio”, assegurou o líder do partido, lembrando que até votou "lado do PCP para garantir que os bombeiros tinham subsídio de risco”.

Questionado sobre se o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o contactou para agilizar a viabilização do OE2025, André Ventura recusou-se a comentar conversas privadas.

“Não tenho por hábito revelar conversas”, disse, depois de revelar o acordo com Montenegro.

Contestado pelo jornalista acerca das propostas orçamentais defendidas pelo Chega, que poderiam provocar despesa e diminuir a receita fiscal, André Ventura defendeu que o “aumento da fiscalização [na atribuição de subsídios] até pode trazer mais receita”, repetindo que o país vai “gastar quase 500 milhões só em RSI [rendimento social de inserção]”.

André Ventura rejeitou a ideia de que as suas publicações nas redes sociais estariam a radicalizar-se, ao estabelecer uma relação entre imigração e criminalidade, que também negou defender.

“Nós estamos a mostrar como o país está em termos de criminalidade”, considerou, garantindo que não está "a criar factos”.

Sobre alegados crimes que expõe nas redes sociais, André Ventura disse que “a imprensa tradicional não os passa”.

“É por isso que temos de recorrer às redes sociais”, afirmou.

“O aumento da imigração é prejudicial”, continuou o deputado. Mais tarde, questionado sobre a presença do líder da organização de extrema-direita Grupo 1143 na manifestação contra a imigração organizada pelo Chega, André Ventura assumiu que não se sente "desconfortável com quem vem por bem e se porta bem”.

"É a primeira vez na história do 25 de Abril de 1974 que milhares de pessoas saíram à rua a dizer que não querem mais imigração", disse Ventura.

Recusando falar sobre eleições presenciais, André Ventura vincou que Luís Marques Mendes, que já tinha sido destacado como um "bom candidato" por Luís Montenegro, “representa o centrão dos interesses". "Nunca será o nosso candidato”, admitiu.

Sem querer desenvolver o tema das eleições presidenciais, André Ventura afirmou que "Pedro Passos Coelho pode ser um bom candidato”.