OCDE
06 fevereiro 2024 às 07h29
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Portugueses são dos que mais recorrem às poupanças 

 Subida de juros e  inflação pesa nos orçamentos. EUA e Itália lideram lista dos que mais usaram economias para manter nível de vida.

As famílias portuguesas ocupam, num grupo de 18 países analisados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o terceiro lugar das que mais recorreram às poupanças para fazer frente ao agravamento do custo de vida, uma condição imposta, sobretudo, pelo aumento abrupto das taxas de juro desde meados de 2022, e pela dependência do crédito bancário e indexação dos contratos a taxas variáveis, aliado aos níveis de rendimento disponível bastante mais baixos quando comparados com a maioria dos seus pares ditos “ricos”.

De acordo com o estudo intercalar sobre as perspetivas económicas (Outlook) do grupo dos países mais desenvolvidos (a OCDE, justamente, atualmente composta por 38 nações), as famílias portuguesas aparecem em terceiro lugar do grupo analisado (atrás das norte-americanas e das italianas) como as que mais usam as “poupanças em excesso” acumuladas durante a fase prévia de juros muito baixos, que durou seis anos até meados de 2022 (altura em que o BCE começou a subir taxas).

No caso de Portugal, a OCDE calcula que as famílias tenham consumido o equivalente a cerca de 1,5% do seu rendimento disponível em poupanças para aguentar o embate do aperto dos juros.

Em Itália, o segundo caso mais apertado, esse movimento vale mais de 2% do rendimento disponível. Nos  Estados Unidos, o primeiro do ranking, o consumo das poupanças excessivas acumuladas ao longo de dois anos (até ao terceiro trimestre de 2023), está em quase 4%.
De acordo com a OCDE, o banco central norte-americano (Reserva Federal ) pode ter margem para começar a descer taxas de juro já no primeiro trimestre. O BCE começa a aliviar os juros mais tarde, mas provavelmente ainda antes do verão, projetam os economistas da organização sediada em Paris.

Seja como for, com os juros em máximos e mesmo que comecem a descer devagar (é esse o cenário da OCDE até ao final de 2024), as famílias devem ter de continuar a recorrer a poupanças para aguentar o embate da subida em flecha dos custos da dívida bancária.
Na Zona Euro, em média, o recurso às poupanças não aparece. Houve até um reforço (poupanças excessivas subiram) na ordem de 1,5% do rendimento disponível das famílias. Em Espanha aconteceu o mesmo, com um aumento da capacidade aforradora de 3,5%. França regista o melhor reforço dos 18 países, ligeiramente superior a 5% do rendimento familiar agregado.

Crescimento débil

No mesmo estudo a OCDE revê, com algum significado, as previsões de crescimento da Zona Euro e das duas maiores economias (Alemanha e França). A área da moeda única caminha agora para um crescimento débil, mais perto da estagnação, de 0,6% (revisão em baixa de 0,3 pontos percentuais). Os EUA beneficiam de uma revisão em alta de seis décimas, para um crescimento de 2,1% este ano. A inflação continua a ser revista em baixa, mas ainda não estará nos desejados 2%, como está no programa dos bancos centrais (BCE e Fed). A média projetada para a Zona Euro é de 2,6%; nos EUA, 2,2%.

Em termos de crescimento económico, a OCDE nota que “os resultados foram mais fracos em muitas outras economias avançadas, em particular na Europa, refletindo a importância do financiamento por parte dos bancos e a continuação dos efeitos adversos do choque dos preços dos produtos energéticos”.

“O crescimento também abrandou nos países em que as taxas de juro subiram e se refletiram rapidamente em taxas de juro mais altas”, observa a OCDE. É o caso de Portugal, onde a prevalência de contratos indexados a taxas de juros variáveis é muito alta, rondando quase 80% do total.

luis.ribeiro@dinheirovivo.pt

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