Se dependesse dos votos dos portugueses no Brasil, o Chega teria ganho as eleições legislativas e ao presidente Marcelo Rebelo de Sousa não restaria alternativa a não ser convidar o líder do partido, André Ventura, para formar governo. Com 24,61% do total de votos, o partido de extrema-direita superou a AD, que somou 20,45%, e o PS, escolha de 15,30% dos eleitores. Em número de votos, cresceu brutais 275% de 2022 para 2024. Como foi possível? E porquê?
O DN convidou um politólogo, um casal especialista em comunicação política, um jornalista que acompanha as comunidades luso-brasileiras tradicionais e um emigrante português já do século XXI para perceber.
Vinícius Vieira, professor de Ciência Política e Relações Internacionais, começa por abordar os números: “No Brasil, o ministério da Administração Interna divide os votos entre o consulado de São Paulo, que inclui os estados de São Paulo e do Mato Grosso do Sul, e o resto do país”. “Nesse resto do país, o Chega cresceu 363% na região em dois anos, ao contrário da AD, que caiu 7%, e o PS até subiu. Mas o dado mais curioso é o crescimento de novos inscritos para votar”.
Igor Lopes, jornalista nascido no Rio de Janeiro há 43 anos mas com dupla nacionalidade, em virtude das origens familiares nas regiões do Douro e de Trás os Montes, que se dedica a acompanhar as comunidades luso-brasileiras, dá uma pista: “Com a mudança na lei, houve uma corrida enorme para obtenção de dupla nacionalidade nos últimos cinco ou seis anos”.
“Entretanto, em São Paulo e Mato Grosso do Sul”, prossegue Vinícius Vieira, “enquanto a AD e o PS tiveram quedas de 3 e 2%, respetivamente, o Chega cresceu 279%, em virtude, também, de o número de votantes ter aumentado 73%”. “Houve, pois, uma mobilização enorme em São Paulo e no Mato Grosso do Sul, regiões muito bolsonaristas, e estes portugueses, alguns já de terceira ou quarta geração, acabaram projetando o bolsonarismo nas eleições portuguesas aqui no Brasil”, conclui o politólogo.