As preocupações em torno da idade e memória de Joe Biden, de 81 anos, ganharam uma nova dimensão esta quinta-feira depois de ser conhecido o relatório da investigação sobre a sua posse de documentos classificados. “A minha memória está boa”, afirmou o presidente dos Estados Unidos, em resposta às alegações do conselheiro especial, que, entre outras coisas, diz que o democrata mostrou uma “memória significativamente limitada” durante os interrogatórios realizados em 2023.
No seu relatório, Robert Hur afirma que Biden reteve e partilhou intencionalmente documentos confidenciais quando era vice-presidente, mas que optou por não avançar com um processo pois um júri teria dificuldade em condenar um “homem mais velho, amigável e bem-intencionado, com má memória”. “Baseada nas nossas interações diretas e em observações, ele é alguém a quem muitos jurados gostariam de dar o benefício da dúvida. Seria difícil convencer um júri de que deveriam condená-lo - então um antigo presidente bem nos seus oitentas - por um crime grave que requer um estado mental determinado”, pode ler-se nas conclusões do conselheiro especial. Hur é um republicano que trabalhou no Departamento de Justiça durante a Administração Trump, tendo sido nomeado pelo procurador-geral para conduzir esta investigação de forma a dar-lhe um grau de independência.
Não escondendo a sua indignação com as conclusões do relatório, o presidente dos Estados Unidos rejeitou a sugestão feita por Hur de que se tinha esquecido quando é que o seu filho Beau tinha morrido. “Como é que ele se atreve a dizer isto?”, questionou, afirmando que a descrição das memórias da morte do filho “não tinham lugar neste relatório”. “Francamente, quando ele fez a pergunta pensei para mim mesmo que não era nada que lhe dissesse respeito. (...) Não preciso que ninguém me lembre de quando é que ele morreu.”
Hur refere também que Biden se mostrou confuso por duas vezes sobre quando é que o seu mandato como vice-presidente tinha terminado e que tinha memórias distintas sobre um debate acerca do Afeganistão “tão importante para ele na altura”.
Joe Biden sublinhou ainda que uma das entrevistas que deu para a realização do relatório, e que teve uma duração de cinco horas, teve lugar a 8 e 9 de outubro, os dois dias seguintes ao ataque do Hamas contra Israel, lembrando que “estava a lidar com uma crise internacional”.
O presidente dos Estados Unidos também rejeitou a ideia de que tinha retido os documentos classificados “intencionalmente”, afirmando que esta ideia deixada pelo conselheiro especial é “enganosa e simplesmente errada” e sublinhou que ele devolveu os documentos classificados, ao contrário de Donald Trump, que se recusou a fazê-lo - o ex-presidente, que enfrenta dezenas de acusações federais no seu caso, diz que Biden está por detrás deste processo.
Os advogados do presidente norte-americano condenaram veementemente os comentários “inadequados”, argumentando que “este relatório utiliza uma linguagem altamente depreciativa para descrever o que acontece frequentemente às testemunhas: dificuldade em recordar acontecimentos que tiveram lugar há anos”.