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Cinema
25 novembro 2024 às 01h05
Leitura: 5 min

O que está a acontecer ao belíssimo novo filme de Clint Eastwood

Boicote? Sabotagem? Um mistério este afastamento das salas de Clint Eastwood no espantoso 'Juror #2', um dos filmes mais esperados do ano que em Portugal, como em quase todo o mundo, nunca será visto nos cinemas. Um crime cinéfilo que não respeita o mais idoso cineasta americano em atividade.

E assim, de repente, o tão aguardado Juror #2, de Clint Eastwood, não vai estrear-se em Portugal. Uma estratégia da Warner que está a indignar a comunidade cinéfila pelo mundo inteiro - não é apenas Portugal que não vai poder ver o filme no grande ecrã: na América só chegou a cerca de 50 salas e fora dos States somente meia dúzia de países tiveram a oportunidade de saborear este drama de tribunal, supostamente o derradeiro trabalho de Eastwood, ele que agora já veio ameaçar que ainda poderá fazer outra longa, mesmo tendo completado 94 anos.

Para já, sabe-se que será à plataforma Max que este título vai parar, dia 20 do próximo mês. Este escândalo já está a dar brado na América. Fala-se em sabotagem, fala-se em falta de respeito para com Eastwood e até o realizador Guillermo Del Toro já veio manifestar-se contra o estúdio nas redes sociais.

Outros analistas colocam a hipótese de esta falta de convicção dos executivos da Warner se prender com as apostas na corrida aos prémios, na qual a estratégia será colocar toda a carne do assador em Dune 2, de Denis Villeneuve, já um dos garantidos nas nomeações aos Óscares.

A imprensa do seu lado

Independentemente de tudo isto, o filme está a ter um forte apoio da crítica americana. O DN já viu o filme e não discorda.

Trata-se de um elaborado e meticuloso ensaio sobre as dimensões morais e éticas, um compêndio frio e seco sobre a verdade que a mentira tenta forjar, tão rigoroso quanto experimental no seu classicismo.

Ao mesmo tempo, é um filme de tribunal com uma vertente de policial capaz de uma gratificação evidente para diversos públicos. Tem um ritmo poderoso, atores que dão escala (Nicholas Hoult, da saga Mad Max, ou Toni Collette, de Hereditário são os protagonistas) e uma segurança no guião exemplar: tudo o que não afasta público das salas, mesmo se houver essa ideia-feita de que é uma produção datada - falso: Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet, vencedor em Cannes e nos Óscares, foi um sucesso em todo o mundo e era uma história passada em tribunal.

A decisão da Warner ganha ainda contornos mais surreais quando a média das poucas cópias estreadas apresentam resultados bem animadores… Ao todo, com os poucos mercados internacionais já faturou 12 milhões. Reza ainda o rumor de que a Warner ponderou não divulgar resultados das receitas, enfim, uma trapalhada.

Outras teorias...

Outras fontes têm a teoria de que o filme foi pensado para um lançamento exclusivo em streaming e mal foi visto internamente houve uma mudança de estratégia: não o lançar logo na Max e apostar num lançamento meramente residual nas salas.

Seja para salvar a honra do convento, seja para agradecer ao legado do realizador, que já faz filmes para o estúdio há cerca de 50 anos. Uma coisa é certa: nesta nova vigência da Warner os chamados filmes de prestígio e para adultos fazem soar alarmes e especula-se que o fracasso do anterior Cry Macho (2021), prejudicado pela covid, poderá ter sido o propulsor deste lançamento vergonhoso.

A intriga anda à volta de um julgamento sobre a morte de uma mulher, supostamente assassinada pelo seu namorado abusivo. Durante o julgamento, um dos jurados, um jovem pai, entra em conflito moral quando percebe que pode ter sido ele a ter atropelado a vítima. Um conflito que pode condenar um inocente. Este jurado número 2 acaba por desafiar o Sistema de Justiça americana.

Ao mesmo tempo, funciona como um “whodunnit” de velha escola sem precisar de reviravoltas estrambólicas. Mais uma vez se avisa: um Clint Eastwood de nível elevadíssimo. Na altura da sua estreia em plataforma, o DN voltará à carga com este objeto de meditação.