O agravamento de problemas de saúde dos moradores dos bairros que integram a freguesia da Misericórdia (Príncipe Real, Bairro Alto, Chiado e Rato) estão entre as maiores preocupações da Junta de Freguesia local e das associações de moradores e de comerciantes naquelas zonas, que se juntam a outros problemas que perturbam o bem-estar da população. Esta semana foi lançada uma petição pública contra o excesso de ruído na freguesia, que procura levar o tema a debate na Assembleia Municipal de Lisboa. “É apenas mais uma forma que encontrámos de pressionar a Câmara (CML) a agir”, disse ao DN Fabiana Pavel, do Movimento Morar em Lisboa, que promoveu esta quarta-feira um debate sobre o tema.
A petição, que faz o enquadramento do problema e aponta soluções, sob a forma de pedidos, à CML, contava com 112 assinaturas em menos de 24 horas depois de ter sido tornada pública (são necessárias 150 para o tema ser apresentado à Assembleia Municipal). No essencial, o documento lançado pelo Movimento Morar em Lisboa recorda que a freguesia da Misericórdia, especialmente nas zonas do Bairro Alto e São Paulo, conta com espaços de vida noturna e de um conjunto de comércio de restauração e bebidas que, nas palavras de Fabiana Pavel, acentuam o excesso de ruído pelo facto de não estarem a cumprir a legislação. “A falta de planeamento comercial tem levado a inúmeros problemas na vivência quotidiana do espaço por parte dos residentes, entre os quais o barulho, a acumulação de lixo e a insegurança crescente”, reforça.
Estes problemas, a par do aumento do turismo, da especulação imobiliária e do Alojamento Local que afastaram muitos residentes, muitos deles por despejo, já eram significativos antes da pandemia, mas, diz a presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, Carla Madeira, “acentuaram-se desde que a vida regressou ao normal”. A responsável recorda que esta é a freguesia lisboeta que mais população perdeu entre 2011 e 2021 (de acordo com os Censos), uma percentagem que ronda os 26%, muito por força da redução da qualidade de vida e da “turistificação”. O problema, sublinha, é que, antes, “os moradores conviviam com o excesso de ruído apenas ao fim de semana, e agora é todos os dias”.
A juntar aos problemas que afetam todas as freguesias centrais (falta de higiene, insegurança, despejos, falta de habitações a preços acessíveis, falta de comércio de proximidade, utilização dos transportes públicos como diversão turística, entre outros), é o ruído que mais faz sofrer os residentes nesta freguesia. “Este é um problema de saúde pública, com um forte impacto na dimensão mental”, afirma Fabiana Pavel que, acrescenta, “o elevado número de espaços comerciais de diversão noturna, e o uso que os seus clientes fazem da via pública, têm-se tornado problemas que afetam diariamente a vida dos moradores”.