Regresso quarto anos depois
04 setembro 2024 às 16h38
Atualizado em 04 setembro 2024 às 20h10
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Rui Costa elege Bruno Lage para outra missão (quase) impossível no Benfica

O treinador de 48 anos está de regresso à Luz. Em janeiro 2019 rendeu Rui Vitória e foi campeão quando poucos acreditavam. Agora sucede Schmidt para tentar repetir a proeza. Apresentação deve ser esta quinta-feira.

Bruno Lage é o eleito por Rui Costa para substituir Roger Schmidt no comando técnico do Benfica. Trata-se de um regresso anunciado, afinal foi o nome que surgiu logo como principal opção do presidente dos encarnados.

A oficialização será feita a qualquer momento, sendo que tudo indica o novo timoneio será apresentado durante o dia desta quinta-feira. Pela frente, Bruno Lage tem a complicada missão de juntar os cacos de uma equipa em crise e cuja partida em falso na I Liga já provocou um atraso de cinco pontos em relação ao líder...

Ainda assim, é um cenário um pouco melhor do que encontrou quando em 2018/19 foi promovido da equipa B para render Rui Vitória, que deixou o Benfica a sete pontos do líder FC Porto a 19 jornadas do fim da I Liga. Lage conseguiu então o que parecia impossível e resgatou o título para a Luz.

Foi no Benfica em 2004/05, pela mão de Jaime Graça – antiga glória do clube –, que iniciou a carreira de treinador camadas jovens. Em 2012, Bruno Lage decidiu deixar o ninho para trabalhar nos Emirados Árabes Unidos, onde conheceu Carlos Carvalhal, tornando-se seu adjunto no Sheffield Wednesday e no Swansea. O primeiro regresso a casa foi em 2018/19 para assumir o comando da equipa B do Benfica, mas a experiência foi curta, pois em janeiro foi chamado pelo então presidente Luís Filipe Vieira para o lugar de Rui Vitória.

O título conquistado, quando quase ninguém acreditava, valeu-lhe a continuidade com contrato renovado, mas na parte final da época seguinte acabou por ser despedido devido a um ciclo negro de 13 jogos – iniciado com uma derrota no Dragão – em que conseguiu apenas duas vitórias, somou seis empates e cinco derrotas.

Bruno Lage voltou ao ativo em 2021/22 para assumir o comando do Wolverhampton, onde conseguiu uma boa época, alcançando o 10.º lugar da Premier League, a dois pontos do oitavo, o Leicester. Só que a temporada seguinte começou mal, com apenas duas vitórias em nove jornadas, acabando por isso por deixar o clube.

O desemprego durou pouco mais de oito meses, altura em que aceitou o convite do Botafogo para substituir Luís Castro – rumou à Arábia Saudita –, que deixava a equipa do Rio de Janeiro na liderança com 12 pontos de avanço sobre o segundo classificado. A missão era difícil num clube que sonhava um título que fugia desde 1995, mas as coisas não correram bem e Bruno Lage fez apenas 15 jogos – 10 no Brasileirão e 5 na Copa Sul-Americana – nos quais conseguiu quatro vitórias e sete empates, acabando por deixar o Botafogo ainda na liderança, mas com sete pontos de vantagem.

O último jogo que orientou no Brasil (1-1 em casa com o Goiás) foi a 3 de outubro de 2023. Desde então passaram onze meses até que o Benfica voltou a bater-lhe à porta.  Neste regresso a casa, Bruno Lage encontra um plantel construído por Roger Schmidt, mas que nos últimos tempos de vigência do alemão mostrou debilidades táticas que tiveram reflexo nos resultados. Na Luz, muita coisa mudou desde que disse adeus há quatro anos e 71 dias, ainda assim vai reencontrar Florentino Luís, médio que lançou na equipa principal.

Mudança tão cedo nunca deu título ao Benfica

Roger Schmidt foi o sexto treinador da história do Benfica a ser despedido antes de cumpridas as primeiras cinco jornadas em 91 edições campeonato nacional. 

É uma situação rara para os lados da Luz e que, em regra, tem vitimado técnicos que transitam de épocas anteriores já bastante fragilizados. Foi assim com Artur Jorge, Manuel José, Jupp Heynckes, Fernando Santos e, agora, Roger Schmidt. A exceção foi o inglês Jimmy Hagan, que deixou a Luz pelo próprio pé depois de, em 1973, se sentir desautorizado pelo presidente Borges Coutinho. Na altura, o líder dos encarnados revogou um castigo a Toni e Humberto Coelho para que estes pudessem participar no jogo de despedida de Eusébio frente a uma seleção do resto do mundo no Estádio da Luz.

Todos estes casos tiveram um desfecho comum: os encarnados não conseguiram emendar a falsa partida e as temporadas terminaram sem o título de campeão. E apenas a época de 1995/96 não terminou sem troféus, pois Mário Wilson, que tinha rendido Artur Jorge à 3.ª jornada, conseguiu  conquistar a Taça de Portugal, frente ao Sporting. 

As chamadas chicotadas psicológicas no Benfica são, tradicionalmente, coroadas de insucesso, pois nas 16 vezes em que teve mais do que um treinador, apenas conquistou o título em duas temporadas: em 1967/68 quando Fernando Riera foi substituído por Fernando Cabrita e este por Otto Glória; e em 2018/19 através de Bruno Lage, que tinha rendido Rui Vitória. Curiosamente, Bruno Lage regressa à Luz para mais uma missão complicada mas com a aura de ter rompido com uma lógica que se tornou tradição no Benfica.

carlos.nogueira@dn.pt

Tópicos: Benfica, Bruno Lage