Aos 69 anos, esteve no desfile da Avenida pela segunda vez. Passados quase 50 anos desde a Revolução, emociona-se ao ver a multidão. Mas o estado do país merece umas palavras também, “está longe” de ser o ideal. Apesar das lacunas noutras áreas, é a Saúde que causa maior preocupação. Afinal, “quem não tem seguro de saúde ou não pode ir ao privado, patina”.
Mas há uma conquista que o 25 de Abril trouxe: “Posso ser mulher. Posso ser o que quiser. Não tenho de ficar cingida a ser uma dona de casa.”
Ao lado da filha, Maria Luísa vê o desfile que se estende por toda a Avenida da Liberdade.
As pessoas são tantas que o tradicional cortejo de viaturas militares tem, até, dificuldade em circular, apesar dos esforços da PSP em abrir caminho. Passa já das 18.00 horas quando chega ao Rossio, sob o banho de aplausos que caracterizou todo o percurso, iniciado às 15.30.
Olhando, junto a uma das esplanadas, está Maria Clara Águas. Quando o 25 de Abril aconteceu, tinha 14 anos. Mas nem por isso passou ao lado da Revolução. Vinha “de uma família muito politizada”, que tinha, de forma clandestina, “panfletos do MDP/CDE [partido de esquerda já extinto]” que escondiam “nas camisolas interiores”. “Era pequena, mas estava atenta e nunca me disseram o que se passava, com medo que dissesse”. Depois do 25 de Abril, veio “a liberdade”, a “filiação partidária” (foi militante do PCP, mas entretanto desfiliou-se) e tudo o resto.