Biden mostrava-se contra autorizar o uso do ATACMS, não querendo uma escalada do conflito que pudesse acabar por arrastar a NATO para a guerra. Mas a entrada em cena dos militares norte-coreanos terá mudado tudo, com os EUA a considerar que foi Moscovo a escalar o conflito. Mais de dez mil militares de Pyongyang estarão já no terreno ao lado dos russos, nomeadamente em Kursk - onde a Ucrânia lançou em maio, de surpresa, uma incursão e onde controla parte de território.
Trump, que toma posse em janeiro, prometeu na campanha acabar com a guerra o mais rapidamente possível (sem dizer como), sendo um crítico da ajuda continuada dos EUA a Kiev.
A decisão de Biden surge depois de um dos maiores ataques russos dos últimos meses, na noite de sábado para domingo, que visou as infraestruturas energéticas ucranianas. A Rússia lançou 120 mísseis e 90 drones, tendo a Ucrânia conseguido intercetar 144 desses projéteis. Ainda assim, foram registados pelo menos nove mortos e foi preciso cortar a energia em várias regiões, tendo sido anunciadas “restrições de consumo” para esta segunda-feira.
“Os terroristas russos estão, mais uma vez, a tentar intimidar-nos com o frio e com apagões, repetindo as suas ações e tentando alcançar resultados com elas”, escreveu Zelensky no X, indicando que o alvo era a infraestrutura energética do país e que várias instalações sofreram danos.
Segundo o Ministério da Defesa russo, o ataque tinha como alvo “infraestruturas energéticas críticas que apoiam o trabalho do complexo industrial de Defesa ucraniano, assim como fábricas que produzem equipamento militar”. Em comunicado, citado no site da Russia Today, as autoridades confirmaram que todos os alvos foram atingidos.
O vice-primeiro-ministro da Moldávia, Mihai Popsoi, denunciou entretanto que os mísseis e drones russos tinham violado o espaço aéreo da Moldávia durante o ataque. A presidente, Maia Sandu, considerou “cruel e inaceitável” a transformação do inverno numa arma “para congelar uma nação até à submissão”. Já a Polónia, membro da NATO, disse que tinha acionado a sua força aérea por precaução.
O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, saiu em defesa da Ucrânia e deixou um recado ao chanceler alemão, Olaf Scholz, que na sexta-feira falou ao telefone com o presidente russo, Vladimir Putin. “Ninguém vai parar Putin com telefonemas. O ataque da última noite, um dos maiores desta guerra, provou que a diplomacia telefónica não pode substituir o apoio verdadeiro de todo o Ocidente à Ucrânia”, escreveu no X, acrescentando que “as próximas semanas serão decisivas, não só para a guerra, mas para o nosso futuro”.
susana.f.salvador@dn.pt