Pertence, por direito próprio, a uma longa linhagem de grandes escritores norte-americanos que inclui, entre outros, William Faulkner, Philip Roth, Norman Mailer ou Toni Morrison. Mas quando falava das suas maiores referências, Paul Auster recuava mais no tempo e falava de Shakespeare, Cervantes, Dickens, Kafka, Scott Fitzgerald, Beckett, Emily Brontë e até de Jane Austen, cuja proximidade nas estantes de livrarias e bibliotecas, ditada pela ordem alfabética, lhe agradava muito.
Auster morreu na noite desta terça-feira, 30 de abril, aos 77 anos, vítima de cancro de pulmão, na sua casa de Brooklyn, Nova Iorque, a cidade que foi, em simultâneo, um dos grandes amores da sua vida e uma das protagonistas da sua obra literária.
Nascido no vizinho estado de Nova Jérsia a 3 de fevereiro de 1947, é autor de uma vasta bibliografia, traduzida em mais de quarenta línguas. Com 27 livros publicados em Portugal, a última incursão do escritor na ficção aconteceu em 2023, quando publicou o romance Baumgartner, considerado por alguns o seu testamento literário. Obra fulgurante sobre a beleza e a tragédia da vida quotidiana, conta a história de um professor de Filosofia, viúvo, a lutar para sobreviver à perda e à ausência da sua mulher.
Estudante na Universidade de Columbia, Auster viveu quatro anos em Paris, que muito o marcaram, nomeadamente pela aproximação que fez a nomes clássicos da poesia francesa como André Breton ou Paul Éluard, que traduziu para inglês. A sua carreira literária “arrancaria” em 1982, com a publicação do livro A Invenção da Solidão, inquietante reflexão sobre a conflituosa relação que tinha com o seu próprio pai.
A primeira novela, Cidade de Vidro, foi rejeitada por 17 editoras antes de ser publicada por uma pequena chancela da Califórnia, em 1985. Mais tarde, este título tornar-se-ia parte da sua obra mais celebre, Trilogia de Nova Iorque. Seguir-se-iam muitos outros como O Palácio da Lua; A Música do Acaso; Leviathan; Mr Vertigo; As loucuras de Brooklyn, mas também várias obras de não ficção, coordenações editoriais (das obras completas de Samuel Beckett, por exemplo) e argumentos para cinema.