Não compete apenas à Aliança Democrática (AD) e aos seus partidos que terão assento parlamentar (PSD e CDS) o isolamento do Chega. A esquerda também tem um papel nesse esforço e ontem isso foi claramente sinalizado pelo líder (e cabeça de lista em Lisboa) do Livre.
Rui Tavares fê-lo salientando que as hipóteses de diálogo da AD podem incluir partidos à sua esquerda - começando pelo seu próprio partido.
Questionado sobre cenários pós-eleitorais, Tavares afirmou que “a direita democrática tem de ter com quem dialogar”. E isto porque - segundo acrescentou - se “não conta com a extrema-direita para nada” então “é possível fazer muita coisa em conjunto que é necessária para melhorar a nossa democracia”. Ou seja: “Há caminho a fazer, não é em tudo, não temos a mesma visão sobre o SNS. A direita propõe coisas para o SNS que não é o que a maior parte das pessoas quer, porque têm medo de perder o que lhes tem servido, mas há questões democráticas nas quais podemos dialogar.”
Tavares falava com jornalistas à margem de uma visita ao Centro de Saúde de Odemira.
Mais tarde, em Faro, ver-se-ia obrigado a esclarecer o sentido da sua afirmação porque “não deve haver nenhum mal-entendido acerca da posição do Livre” nem, “acima de tudo, a interpretação de que essa posição tenha mudado”. “O Livre, se houver uma maioria à esquerda, é parte da solução, se houver uma maioria à direita, é parte da oposição”, salientou.
Dizendo que há “uma distância enorme em relação à direita”, explicou que isso ocorre em “matérias centrais à governação”, como política económica, política social, SNS, fiscalidade e escola pública.”
Porém - acrescentou - a esquerda deve ter “a capacidade de ter um diálogo com o centro e com a direita democrática em questões que têm a ver com a ‘saúde’ da nossa democracia” e essas questões passam pela instituição de um círculo de compensação nacional nas legislativas, pelo combate à corrupção e pela reforma da Justiça. São matérias em que “todos os democratas devem entender-se para precisamente identificar e isolar ameaças à democracia, que vêm da extrema-direita”.