O executivo da Câmara do Porto aprovou esta segunda-feira, por unanimidade, atribuir o nome da brasileira assassinada na cidade em fevereiro de 2006, Gisberta Salce Júnior, a uma rua no Bonfim, decisão considerada pela maioria dos vereadores como histórica.
O nome de Gisberta será atribuído ao arruamento com início na Rua das Eirinhas e término na Travessa das Eirinhas, por indicação da Comissão de Toponímia do Porto que, a 12 de outubro de 2023, deliberou sobre o tema.
Pelo PS, a vereadora Maria João Castro destacou que a atribuição do nome da transexual brasileira a uma rua do Bonfim "foi uma luta de muita gente".
"Hoje é um dia muito importante (...) Prestamos homenagem e em nome dela dizemos nunca mais", disse, referindo-se ao crime perpetuado.
Gisberta foi morta em fevereiro de 2006 por um grupo de menores depois de sofrer agressões ao longo de vários dias, tendo o corpo sido encontrado submerso no fosso de um prédio inacabado, no Campo 24 de Agosto.
À semelhança da socialista, também a vereadora da CDU, Ilda Figueiredo, defendeu que a atribuição é "símbolo de uma cidade inclusiva, sem ódios e exemplo para que não se repita".
Já o presidente da Câmara do Porto, o independente Rui Moreira, lembrou que, quando pertencia à Comissão de Toponímia, defendeu a respetiva atribuição, mas que a mesma acabou por não ser acolhida.
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", afirmou o independente, acrescentando que "o tempo é um grande conselheiro".
"Não vamos esconder debaixo do tapete aquilo que foi um crime terrível. Podemos perdoar, mas não podemos esquecer", acrescentou, elogiando as forças políticas por se unirem nesta matéria.
Pelo BE, o vereador Sérgio Aires destacou o papel desempenhado por diversas organizações da sociedade civil que permitiram "chegar a este dia importante", mas notou que a violência de género "continua a acontecer", defendendo ser preciso "ir mais longe".
Já a social-democrata Mariana Macedo disse ver "com orgulho" como a cidade consegue "ter uma atitude inclusiva de aceitar e respeitar" as diferenças.
A par da atribuição do topónimo de Gisberta, o executivo municipal foi também unânime em atribuir o nome do arquiteto Fernando Távora ao arruamento com início na Rua Horácio Marçal e término na Rua Nova do Rio, na freguesia de Paranhos.
A atribuição do nome de Gisberta Salce Júnior a uma rua da cidade gerou, em março de 2022, divergências no entendimento dos critérios ditados pelo regulamento da Comissão de Toponímia, órgão consultivo da Câmara Municipal do Porto para as questões de toponímia da cidade.
Depois de ter sido recusada em várias outras ocasiões, a atribuição do nome de Gisberta a uma rua dividiu os votos dos membros da comissão. Dos 19 elementos que a compõem, estavam naquela reunião 13, tendo sete votado a favor e seis contra.
À época, contactados pela Lusa, vários membros da comissão admitiam uma revisão do regulamento para evitar confusões e ambiguidades em torno de quem é elegível.
Em dezembro desse ano, o Regulamento Toponímico do Porto, cuja revisão tinha sido anunciada em março pela comissão, continuava inalterado e sem revisão agendada.