O economista Pedro Arroja rompeu o silêncio dominante entre os dirigentes e militantes do Chega quanto aos resultados das eleições europeias, atribuindo culpas a André Ventura pelo “tombo do Chega”, que no domingo passado teve apenas 9,79% dos votos, menos de três meses depois de ter ultrapassado os 18% nas legislativas.
Num texto publicado no seu blogue Portugal Contemporâneo, o responsável pelo programa económico com que o Chega se apresentou às legislativas de 2022, quando o partido passou de um para 12 deputados, escreveu que “o principal problema do Chega neste momento é o seu próprio presidente”. Na opinião de Pedro Arroja, não existe melhor candidato para a liderança, mas André Ventura “precisa de mudar”, deixando de ser “o maior factor de risco para a implosão” de um partido que pode “acabar como o PRD dos anos 80”.
“O principal problema do André Ventura é que não gosta de dar protagonismo a ninguém e sente-se ameaçado por todos aqueles que ganham, ou possam ganhar, alguma relevância no partido”, defende Arroja, que se tornou militante do Chega em dezembro de 2022. E apresenta como “exemplo paradigmático” o que sucedeu ao cabeça de lista do partido às eleições europeias, Tânger Corrêa, considerando “penoso ver as cidades do país inundadas de cartazes publicitários com os cabeças de lista de todos os partidos, e no caso do Chega os cartazes aquilo que mostravam era o seu presidente que, na instância, não era candidato a coisas nenhuma”.
Mesmo defendendo que Tânger Corrêa “era, de longe, o mais competente, mais bem preparado e mais experiente de entre todos os candidatos dos diferentes partidos em matéria de política europeia e até mundial”, tendo em conta a sua experiência enquanto embaixador, Pedro Arroja realça que se tratava de alguém “praticamente desconhecido” e distante dos “holofotes mediático”. E que, por isso mesmo, precisava de apoio na comunicação do Chega que, na opinião do economista, não teve.
“Falhou o facto de ele nunca ter sido promovido pelo partido e alavancado junto da comunicação social em preparação para estas eleições europeias. E isso deve-se a que o André Ventura não gosta de promover ninguém no partido, exceto a si próprio”, defende Pedro Arroja, para quem o Chega, “sob a inspiração do seu presidente, fomentou uma cultura Interna de anti-intelectualismo e de anti-profissionalismo”. Algo que considera poder dever-se ao “receio de que qualquer representante das profissões intelectuais lhe faça sombra” e que “a discussão livre das ideias perturbe a ordem institucional do partido”.
Segundo o economista, que se mantém enquanto militante 29787, mas nas últimas legislativas limitou o seu contributo a fazer o cálculo do impacto financeiro da “proposta revolucionária” e “imitada pela AD” de igualar a pensão mínima de reforma ao salário mínimo nacional, a outra razão para o “tombo do Chega” é aquilo que designa como “desorientação ideológica” reinante no partido.
“O Chega nasceu como um partido conservador-liberal, conservador nos costumes, liberal na economia. Mas nas últimas legislativas o seu programa virou consideravelmente à esquerda, tornando-se um programa que, na economia, é vincadamente social-democrata, e noutros sectores, como quando se refere aos animais, uma mera imitação do PAN”, acusa Arroja, acrescentando que os portugueses já têm no PS e no PSD dois partidos sociais-democratas, pelo que “não precisam de um terceiro”.
Essa perda de identidade ideológica terá sido, na opinião do economista, o motivo para o recuo do Chega nas eleições europeias, quando comparado com as legislativas, “enquanto todos os partidos da direita conservadora-liberal subiram”.