Mantém-se nos 4%
07 março 2024 às 13h38
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BCE volta a manter taxas de juro inalteradas

Depois de subir as taxas dez vezes desde meados de 2022, colocando-as no nível mais elevado de sempre, o BCE tem optado, assim, por uma pausa nas últimas reuniões, antes de vir a relaxar a política monetária.

O Banco Central Europeu (BCE) anunciou esta quinta-feira que deixou as taxas de juro inalteradas, o que acontece pela quarta vez consecutiva desde outubro de 2023.

"O Conselho do Banco Central Europeu (BCE) decidiu esta quinta-feira manter as três taxas de juro diretoras do BCE inalteradas", informou a instituição em comunicado divulgado após a reunião.

A taxa de depósitos permanece em 4%, o nível mais alto registado desde o lançamento da moeda única em 1999, enquanto a principal taxa de juro de refinanciamento fica em 4,5% e a taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez permanece em 4,75%.

O BCE destaca que desde a última reunião em janeiro, a inflação registou nova descida e que a inflação foi revista em baixa, em particular para 2024, nas projeções divulgadas esta quinta-feira, o que reflete sobretudo um contributo menor dos preços dos produtos energéticos.

No entanto, indica que embora a maioria das medidas da inflação subjacente tenham registado novo abrandamento, "as pressões internas sobre os preços permanecem elevadas, devido, em parte, ao forte crescimento dos salários". "As condições de financiamento são restritivas e os anteriores aumentos das taxas de juro continuam a pesar sobre a procura, o que está a ajudar a reduzir a inflação", refere.

O Conselho do BCE volta a assegurar estar "determinado a assegurar o retorno atempado da inflação ao seu objetivo de médio prazo de 2%".

"Com base na sua atual avaliação, o Conselho do BCE considera que as taxas de juro diretoras do BCE estão em níveis que, se forem mantidos por um período suficientemente longo, darão um contributo substancial para esse fim", refere.

A instituição reafirma que irá continuar a seguir uma abordagem dependente dos dados para as futuras decisões.

Relativamente ao programa de compra de ativos (asset purchase programme - APP) recorda que durante o primeiro semestre tenciona continuar a reinvestir, na totalidade, os pagamentos de capital dos títulos vincendos adquiridos ao abrigo do PEPP (programa de compra de ativos devido a emergência pandémica), enquanto no segundo semestre do ano, pretende reduzir a carteira do PEPP, em média, em 7,5 mil milhões de euros por mês.

Depois de subir as taxas dez vezes desde meados de 2022, colocando-as no nível mais elevado de sempre, o BCE tem optado, assim, por uma 'pausa' nas últimas reuniões, antes de vir a relaxar a política monetária.

Quando o BCE altera as taxas de juro diretoras, tal reflete-se no conjunto da economia, tendo impacto por exemplo nos empréstimos bancários, nos empréstimos a nível do mercado, no crédito à habitação, nas taxas de juro dos depósitos bancários ou em outros instrumentos de investimento.

BCE vê taxa de inflação a regressar à meta de 2% em 2025

O BCE cortou esta quinta-feira a previsão de inflação média para a zona euro para 2% em 2025, o que coloca a inflação no próximo ano em linha com o objetivo de estabilidade de preços do banco central.

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, explicou, em conferência de imprensa, após a reunião do Conselho, que a instituição reviu em baixa a projeção da taxa de inflação média para a zona euro para 2,3% em 2024 e 2% em 2025, mantendo-a em 1,9% até 2026.

A inflação média prevista para 2024 foi reduzida em quatro décimas, colocando-a mais próxima do objetivo do BCE de 2% no médio prazo, um dos fatores que a entidade terá em conta na decisão sobre futuras decisões para reduções das taxas de inflação.

Christine Lagarde salientou que a taxa de inflação se situou nos 2,8% em janeiro e, de acordo com a estimativa provisória do Eurostat, espera-se que tenha desacelerado novamente para 2,6% em fevereiro.

"A inflação deverá continuar esta tendência descendente nos próximos meses", disse, acrescentando que a instituição espera que a taxa caminhe para a meta de 2% à medida que os custos laborais moderem e os efeitos dos choques energéticos passados, dos estrangulamentos na oferta e da reabertura da economia após a pandemia se desvanecem.

"As medidas das expectativas de inflação a mais longo prazo permanecem globalmente estáveis, situando-se a maioria em torno de 2%", apontou.

No entanto, salientou que existem riscos, entre os quais, do lado ascendente, o aumento das tensões geopolíticas, especialmente no Médio Oriente, que poderão aumentar os preços da energia e os custos de transporte no curto prazo e perturbar o comércio global.

A inflação também poderá ser superior ao previsto se os salários aumentarem mais do que o esperado ou se as margens de lucro se revelarem mais resilientes, considerou.

Por outro lado, "a inflação poderá surpreender no sentido descendente se a política monetária refrear a procura mais do que o esperado, ou se o ambiente económico no resto do mundo piorar inesperadamente", indicou.

Já os riscos para o crescimento económico continuam inclinados no sentido descendente, segundo a presidente do BCE.

"O crescimento poderá ser menor se os efeitos da política monetária se revelarem mais fortes do que o esperado. Uma economia mundial mais fraca ou um novo abrandamento do comércio mundial também pesariam sobre o crescimento da zona euro", exemplificou.

Christine Lagarde destacou ainda que a guerra na Ucrânia e o conflito no Médio Oriente são "importantes" riscos geopolíticos, que podem levar a um enfraquecimento da confiança das famílias e empresas, afetando o comércio global.

Por outro lado, "o crescimento poderá ser maior se a inflação descer mais rapidamente do que o esperado e o aumento dos rendimentos reais significar que a despesa aumenta mais do que o previsto, ou se a economia mundial crescer mais fortemente do que o esperado".

Tópicos: BCE, taxas de juro