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18 janeiro 2024 às 07h26
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Cortiça com ano recorde no exterior e vinho falha a meta dos mil milhões

Ainda faltam dados de dezembro, mas já é garantido que a cortiça ultrapassa os 1212 milhões do ano anterior. Nos vinhos, licorosos estão a “arrastar” o setor para o vermelho.

O ano de 2023 promete ficar como o melhor de sempre para a cortiça que conta fechar a crescer em volta dos 3% e a aproximar-se dos 1250 milhões de euros de exportações. Já nos vinhos, a meta dos mil milhões será adiada. Nos primeiros 11 meses do ano, Portugal vendeu ao exterior quase 298,1 milhões de litros no valor de 860,7 milhões de euros, o que corresponde a uma quebra homóloga de 1,8% em quantidade e de 1,4% em valor. Uma performance muito sustentada no decréscimo dos licorosos, cujas exportações caíram 5% em quantidade e 3,4% em valor, pressionados pelas perdas do vinho do Porto e dos Madeira.

Na cortiça, em que Portugal é líder mundial, as exportações cresceram 3,1% no acumulado entre janeiro e novembro (para os 1156 milhões de euros), o que reflete sobretudo o “bom desempenho” do setor no primeiro trimestre do ano, destaca o presidente da Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR), lembrando que o ano arrancou com um “forte crescimento”, na ordem dos 8% no primeiro trimestre, mas os dois trimestres seguintes foram “muito equilibrados” face ao  período homólogo de 2022. 

Fechar o ano com um acréscimo na ordem dos 3% é um “aumento interessante” face à “conjuntura difícil” com que o setor se viu confrontado, com quebras da procura decorrentes da inflação e do aumento das taxas de juro, em especial nos países europeus. Com as rolhas a representar 70 a 75% das exportações de cortiça, João Rui Ferreira lembra que “tudo o que acontece no mundo do vinho impacta o setor”. E, a este nível, 2024 tratará novos desafios já que, de acordo com a Organização Internacional da Vinha e do Vinho, a produção mundial da última vindima terá sido a mais baixa dos últimos 60 anos. “Apesar de tudo, mantemos o nosso otimismo porque a cortiça tem características e credenciais que estão alinhadas com a sustentabilidade, economia circular e as alterações climáticas, além de contar com uma elevada taxa de preferência junto dos consumidores e profissionais do setor”, frisa. 

Em Portugal, a campanha de 2023 foi a maior desde 2006, o que são “boas notícias” do ponto de vista nacional, admite o responsável, recordando, no entanto, que a indústria corticeira é “muito mais sensível ao contexto internacional”, na medida em que exporta a maior parte do que produz.
Vinhos em queda

A bater recordes sucessivos de vendas ao exterior, em valor, desde 2017, os vinhos portugueses vão ficar aquém do esperado. O primeiro trimestre fechou em linha com o ano anterior, mas o crescimento de 7,5% no segundo trimestre veio dar algum alento, que os meses seguintes derrubaram. No terceiro trimestre, a quebra foi de 4,4%, “escondendo” que, em setembro, as exportações de vinho caíram 13,5%. Em outubro recuaram 6,5% e em novembro 12,4%. “Está a assistir-se a uma diminuição do comércio e do consumo mundial de vinho”, diz o presidente da ViniPortugal, a entidade responsável pela promoção internacional do setor, que aponta as quebras, em valor, homólogas, de 16,7% na Argentina, de 21% no Chile e de 11% na Austrália ou de 2% na Itália, salvaguardando que os dados do Chile são de janeiro a novembro e os de Itália até setembro. 

“Apesar de estarmos a cair [-1,5%], não estamos assim tão mal comparativamente aos nossos concorrentes no mercado mundial, o que significa que estamos a ganhar quota, mas de um mercado que está a encolher”, diz Frederico Falcão. No top-10 dos principais destinos de exportação dos vinhos portugueses, só o Brasil, Países Baixos e Polónia crescem tanto em quantidade como em valor. O Reino Unido sobe em valor, mas perdeu volume. França e Estados Unidos, os dois maiores compradores de vinhos portugueses, adquiriram menos em 2023. A subida da inflação e o aumento das taxas de juro são fatores apontados para a retração do consumo na Europa, mas a ViniPortugal lembra que há também um certo “acerto de stocks” de mercados que compraram “mais do que as suas necessidades em anos anteriores”.

Os vinhos certificados são os únicos a crescer, embora marginalmente: Portugal exportou, nos primeiros 11 meses do ano passado, 134,7 milhões de litros de vinhos com denominação de origem (DO) e com indicação geográfica (IG), no valor de 404,7 milhões de euros, mais 0,2% em volume e 1,5% em valor. O preço médio subiu 1,3% para três euros o litro. 
Nos licorosos, Portugal exportou, até novembro, 51,8 milhões de litros de vinho do Porto no valor de 284,4 milhões de euros, o que corresponde a uma quebra de 5% em quantidade e de 3,3% em valor. O preço médio subiu 1,8% para 5,49 euros por litro. Já as exportações de vinho Madeira caíram 15,4% em volume e 8,8% em valor, com a exportação nos primeiros 11 meses do ano a ficar-se pelos 1,89 milhões de litros no valor de 14,4 milhões de euros. O preço médio cresce 7,8% para 7,65 euros.

ilidia.pinto@dinheirovivo.pt