1955-2024
27 julho 2024 às 19h57
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Morreu Mísia, a fadista que inovou o fado

"Partiu em paz, docemente, sem dores, rodeada dos amigos", disse o escritor e amigo Richard Zimler. Tinha 69 anos.

A fadista Mísia, que foi considerada uma inovadora do género musical, morreu este sábado aos 69 anos em Lisboa, disse à Lusa o escritor Richard Zimler, que era seu amigo.

"A Mísia morreu num hospital em Lisboa", disse Zimler, remetendo para "mais tarde" outros pormenores pela agência da  criadora de "Mistérios do Fado" (João Monge/Manuel Paulo).

"Partiu em paz, docemente, sem dores, rodeada dos amigos", acrescentou Zimler.

Susana Maria Alfonso de Aguiar nasceu no Porto e protagonizou uma carreira de cerca de 34 anos, durante a qual atuou nos mais variados palcos do mundo e recebeu diferentes prémios, entre eles o galardão francês da Academia Charles Cros pelo seu álbum "Garra dos Sentidos", no qual gravou poemas de Natália Correia, Mário Cláudio, Lídia Jorge, José Saramago, Lobo Antunes, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, e António Botto.

Mísia editou o seu primeiro álbum, homónimo, em 1991.

Em 2022, Mísia editou o álbum "Animal Sentimental", parte de um projeto tríptico sobre trinta anos de carreira, que inclui um livro, com o mesmo título e saído no verão desse ano e estreou um novo espetáculo.

Tiago Torres da Silva, Fernando Pessoa, Mário Cláudio, Natália Correia, Vasco Graça Moura e Lídia Jorge foram os autores escolhidos por Mísia para "Animal Sentimental".

No livro, autobiográfico, a fadista conta episódios inéditos da sua carreira, recuando às memórias de infância e da adolescência, os tempos do colégio interno, gerido por freiras, no Porto, a avó catalã e a mãe, bailarina de flamenco, uma biografia, que como disse à Lusa, a partir de 1991, começou a ser fixado nos discos".

No livro, a cantora narrou a sua luta contra o cancro, que lhe foi diagnosticado três vezes.

Além da estreia com "Mísia" (1991), gravou registos como "Garras dos sentidos" (1998), "Canto" (2003) e "Ruas" (2009).

Em 2004 foi condecorada com a Ordem das Artes e das Letras de França e no ano seguinte foi distinguida com a Ordem de Mérito da República Portuguesa.

Governo realça que "foi uma voz fundamental na renovação do fado"

A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, considerou hoje que Mísia "foi uma voz fundamental na renovação do fado", numa nota de pesar pela morte da fadista.

"Com uma vasta carreira, Mísia foi uma voz fundamental na renovação do fado, sem receio de experimentar novas sonoridades e abordagens menos convencionais" afirmou, referindo que "granjeou o reconhecimento dos seus pares".

"Deixa-nos uma vasta lista de colaborações com músicos de todo o mundo, que demonstra a sua versatilidade e o seu talento", refere ainda a titular da Cultura que apresenta "aos seus familiares, amigos e admiradores", "as mais sentidas condolências".

Tópicos: obituário, Cultura, Fado