Saúde
11 julho 2024 às 11h34
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Casos de covid-19 aumentam. Vacinação só possível para quem nunca a tomou e é doente de risco

Portugal tem vindo a registar uma nova onda de covid-19, mas quem não fez reforço na campanha 2023-2024 não deve receber agora a vacina. Estas só estão disponíveis para quem nunca foi vacinado e é doente de risco. Os restantes devem esperar pela campanha a ser preparada pela DGS e pelas farmácias.

Entre outubro de 2023 e abril de 2024 foram administradas quase dois milhões de doses de vacinas contra a covid-19 em Portugal, mais precisamente 1 992 430. Destas, 397 279 destinaram-se aos grupos de risco e 305 089 a pessoas com menos de 60 anos, que quiseram ser vacinadas. A taxa de cobertura vacinal mais elevada foi registada na população com 80 ou mais anos (78%), enquanto na população entre os 60 e os 64 anos foi registada apenas uma cobertura de 56,14%.

Mesmo assim, quer do lado da Direção-Geral da Saúde quer dos farmacêuticos, “o balanço é positivo”, comentou ao DN o bastonário desta classe. Hélder Mota Filipe destaca ainda que, apesar de a cobertura vacinal não ter atingido os níveis que teve em plena pandemia, “é uma cobertura total da ordem dos 56% e está acima da média de vacinação na Europa, que é de cerca de 12%”. 


A razão para menos adesão, segundo foi explicado pela DGS e pelo próprio bastonário, parece estar na “frustração e saturação da população elegível face à vacinação e ao receio dos efeitos secundários das vacinas no caso de pessoas não vacinadas, bem como à imunização natural resultante do contágio pelo vírus no início da época de vacinação”. Mas Hélder Mota Filipe recorda que “a vacinação significa proteção e o importante é que as pessoas se vacinem. E quem ainda não o fez pela primeira vez ou é um doente de risco deve fazê-lo. Para estes ainda há vacinas disponíveis nos centros de saúde”, sublinhou.


O DN quis saber se com o aumento de casos que se tem vindo a registar no país desde o mês de maio ainda haveria a possibilidade de quem não se vacinou durante o período da campanha anterior, de outubro de 2023 a abril de 2024, o fazer agora. Mas a resposta foi categórica por parte dos farmacêuticos. “A campanha funciona bem e o que queremos é que toda a população seja vacinada no período certo para se preparar para o inverno”, salienta Hélder Mota Filipe. 


O pneumologista Filipe Froes entende que, neste momento, “a decisão de vacinar deve ser uma decisão partilhada entre o médico e o doente com base no risco de gravidade da infeção e a presença de factores de risco”. Segundo explica ao DN, “a vacinação em julho de 2024 com as vacinas de setembro do ano anterior, que tinham na sua base a variante (XBB.1.5), tem pouca eficácia nas pessoas que mais necessitavam de proteção, nomeadamente os imunocomprometidos”.

O médico sustenta que “houve uma progressão de mutações no SARS-CoV-2 que explicam essa menor eficácia, embora sem qualquer problema de segurança da vacina. O que eu recomendo aos meus doentes mais vulneráveis é protegerem-se no período da campanha, evitando aglomerados e pessoas com queixas respiratórias, e que, na dúvida, de poderem estar a correr riscos, optem pelo uso da máscara. E se quiserem ser vacinados, mal não faz que o sejam em setembro com a nova vacina, as vantagens são muito superiores”.


Mas Filipe Froes vai um pouco mais longe defendendo que quem integra grupos de risco, e se esse for o entendimento clínico, deveria receber um reforço ao fim de seis meses. Ou seja, para estes a vacinação deveria ocorrer em setembro-outubro e em março-abril, já que está demonstrado por evidência científica que, ao fim de cinco a seis meses, “a proteção de anticorpos contra a infeção já está reduzida. “Esse é o motivo porque algumas pessoas voltam a ser infetadas”, diz o médico. O que não quer dizer, no entanto, que “a vacina não mantenha a proteção contra o desenvolvimento de doença grave”. Para o especialista há outra situação que deveria ser repensada e que tem a ver com a “monitorização do vírus nas águas residuais, para que fosse possível obter informação sobre este de forma mais célere”, reforça. 


Nova campanha a ser preparada. Farmácias voltam ao processo


Mas para este ano, a campanha de vacinação (2024-2025) contra a covid-19 e contra a Gripe já está a ser preparada e o objetivo continua a ser o mesmo, “vacinar o máximo de pessoas em proximidade”, explicaram-nos.

O DN sabe que esta irá decorrer nos mesmos moldes do ano passado e com as farmácias no processo, apesar das críticas que se fizeram ouvir no ano passado sobre o facto de a campanha não ter sido bem divulgada. Mas para estas críticas o bastonário tem uma resposta: “70% das pessoas preferiu ser vacinada nas farmácias, sendo a acessibilidade um dos principais motivos apontados, isto quer dizer alguma coisa”. Por outro lado, sublinha, “o alargamento da campanha de vacinação sazonal às farmácias comunitárias permitiu aumentar em mais de 400% a disponibilidade de pontos de vacinação comparativamente com 2022-2023, permitindo também antecipar o pico de administrações comparativamente aos outros anos”.


Para o ano de 2024-2025, o que está previsto pela DGS, embora não haja ainda uma data concreta, é que campanha avance a partir da segunda quinzena de setembro, e não no início de outubro como aconteceu no ano passado, devendo terminar no final de dezembro, embora possam continuar a ser administradas vacinas até final de abril de 2025, “com faseamento sequencial, e de acordo com a disponibilidade de vacinas”, refere a DGS. Segundo justifica a autoridade de Saúde, “a adoção deste modelo de vacinação tem como objetivo assegurar elevados padrões de eficiência e de efetividade, promovendo ganhos em saúde, aliados a uma maior proximidade para os utentes”.


A forma de agendar será a mesma do ano passado, as pessoas com 60 ou mais anos poderão agendar a vacinação simultânea para a covid e para a Gripe diretamente nas farmácias e nos centros de saúde, ou na plataforma criada pelas farmácias para este efeito em 2023 (https://agendamento.farmaciasportuguesas.pt/).

A vacina será administrada de forma gratuita e sem necessidade de prescrição, o mesmo é aplicado a quem integra grupos de risco, como doentes oncológicos, crónicos com doenças auto-imunes, etc. Quem está fora destas faixas etárias e sem integrar um grupo de risco deverá consultar o seu médico e obter uma prescrição da vacina, embora aqui esta tenha de ser paga. 


Segundo Hélder Mota Filipe, “o processo poderá ter algumas pequenas alterações logísticas”, mas nada de significativo. Neste momento, os reguladores de medicamentos dos EUA e da União Europeia já definiram o que deve constar das vacinas para a próxima campanha de forma a proteger as populações, devendo estas incluir as subvariantes que provocaram ondas pelo mundo inteiro, no último ano, como a JN.1 e as suas descendentes KP, nomeadamente a KP.2. Agora, falta definir os modelos de aquisição e de distribuição, o que “já compete à DGS”, diz o bastonário.

Nas farmácias está tudo a ser preparado e o bastonário recorda que “a campanha do ano passado envolveu 7018 farmacêuticos e 2491 farmácias em todo o país”, referindo ainda que “um estudo divulgado pela Associação Nacional das Farmácias concluiu que o alargamento da vacinação sazonal às farmácias comunitárias gerou um potencial de poupança de 2,4 milhões de euros para os utentes e de 310 000 horas de trabalho de profissionais no SNS”.

Tópicos: covid-19, Vacinas