Guerra
15 agosto 2024 às 00h31
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Forças de Kiev continuam a avançar na Rússia e criam zona tampão em Kursk

Ucrânia anunciou planos para a formação de “corredores humanitários” em Kursk para a retirada dos civis e revelou ter atacado com drones quatro bases aéreas em território russo.

Volodymyr Zelensky revelou esta quarta-feira que as tropas ucranianas estão a “avançar mais” em território russo, numa altura em que o maior ataque transfronteiriço de Kiev já entrou na sua segunda semana. O exército ucraniano entrou na região russa de Kursk a 6 de agosto, tendo conseguido já capturar dezenas de localidades - Moscovo fala em 28 e Kiev em 74 - naquela que é maior ofensiva de um exército estrangeiro em solo russo desde a Segunda Guerra Mundial.

“Na região de Kursk, estamos a avançar mais. De um a dois quilómetros em diferentes áreas desde o início do dia”, referiu esta quarta-feira o presidente da Ucrânia nas redes sociais, acrescentando que o exército já capturou mais de 100 soldados russos. Dados fornecidos pelo Instituto para o Estudo da Guerra indicam que as tropas ucranianas, até segunda-feira, tinham avançado sobre uma área de pelo menos 800 quilómetros quadrados na Rússia.

Já o ministro do Interior, Igor Klymenko, avançou que a Ucrânia vai criar uma “zona tampão” na região para evitar ataques russos transfronteiriços. “A criação de uma zona tampão na região de Kursk é um passo para proteger as nossas comunidades fronteiriças dos bombardeamentos hostis diários”, explicou Klymenko.

Paralelamente, Kiev referiu ainda esta quarta-feira que o seu exército vai permitir a retirada de civis da região de Kursk para a Rússia e a Ucrânia e permitirá a presença de organizações humanitárias internacionais na área onde as suas tropas lançaram esta grande ofensiva. “As nossas forças militares planeiam abrir corredores humanitários para a retirada de civis: tanto na direção da Rússia quanto da Ucrânia”, garantiu a vice-primeira-ministra Iryna Vereshchuk.

O Ministério para as Situações de Emergência russo afirmou esta quarta-feira que a maioria dos habitantes das zonas fronteiriças da província de Kursk já foi retirada da região. “A maioria dos residentes das zonas fronteiriças da região de Kursk foram temporariamente deslocados e encontram-se em locais seguros”, avançou este organismo no Telegram, sem fornecer o número total de civis abrangidos. No entanto, precisou que oito mil dos deslocados se encontram em abrigos situados em 11 regiões russas.

Na segunda-feira, o governador em funções de Kursk, Alexei Smirnov, tinha assegurado numa reunião com Vladimir Putin que cerca de 121 mil pessoas já tinham sido retiradas das zonas fronteiriças com a Ucrânia e outras 60 mil transferidas para locais mais seguros.

Soluções de longo alcance precisam-se

Uma fonte de segurança ucraniana revelou esta quarta-feira à Reuters que Kiev levou a cabo o seu maior ataque de drones de longo alcance numa operação noturna contra quatro bases aéreas russas - Voronezh, Kursk, Savasleyka e Borisoglebsk. Ataque teve como objetivo minar a capacidade de Moscovo de usar aviões de guerra para ataques contra a Ucrânia, referiu a mesma fonte.

Numa mensagem publicada no Telegram ao final da tarde de quarta-feira, Zelensky agradeceu às tropas pelos “ataques precisos, oportunos e eficazes às bases aéreas russas”, uma prova de que “os drones ucranianos funcionam exatamente como deveriam”. Mas recordou que “há coisas que não se pode fazer apenas com drones”, voltando a falar na necessidade de mísseis, referindo que “continuamos a trabalhar com os nossos parceiros em soluções de longo alcance para a Ucrânia” e sublinhando que “quanto mais ousadas forem as decisões dos parceiros, menos Putin poderá fazer”.

Do lado da Rússia, e depois de esta decisão ter sido ativada há dias em Kursk, quarta-feira foi a vez de a vizinha Belgorod declarar o estado de emergência, com o seu governador a alertar que a situação é “extremamente difícil” devidos aos ataques de drones e bombardeamentos ucranianos. “Casas foram destruídas, civis morreram e ficaram feridos”, escreveu o governador Viacheslav Gladkov no Telegram.

Ao oitavo dia de avanço das forças de Kiev, Moscovo insistiu que tem conseguido resistir e mesmo repelir as intenções do inimigo. De acordo com um comunicado do Exército russo, as suas tropas, apoiadas pela aviação, drones e artilharia, “frustraram as tentativas de grupos móveis inimigos em veículos blindados de penetrar profundamente no território russo”, tendo infligido pesadas perdas aos ucranianos.

O Ministério da Defesa russo informou ainda que os seus sistemas de defesa aérea abateram, na noite de terça-feira, um total de quatro mísseis táticos e 117 drones sobre o território do país, numa referência aos ataques ucranianos às suas bases aéreas.

ana.meireles@dn.pt