O mais jovem primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, que tinha 34 anos quando tomou posse, passou esta quinta-feira a pasta ao mais velho chefe de Governo da V República. Michel Barnier, de 73 anos, conhecido dos europeus por ter sido o negociador do Brexit, foi o escolhido pelo presidente Emmanuel Macron para desbloquear o executivo e assumir as rédeas de Matignon.
No discurso na posse, o novo primeiro-ministro admitiu que haverá “mudanças e ruturas” neste virar de página, defendendo que será preciso “ouvir muito e muito respeito”, prometendo dialogar com todas as forças políticas. Militante d’Os Republicanos, partido de direita que foi apenas quarto nas legislativas, Barnier já sabe que irá ter que enfrentar uma moção de censura da parte da esquerda, que o acusa de não ter “legitimidade”.
Numa Assembleia Nacional dividida em três grandes blocos, a chave estará nas mãos da extrema-direita do Reunião Nacional (RN), que exclui fazer parte do governo mas quer ouvir o “discurso de política geral” de Barnier antes de tomar uma posição. “Julgaremos com base no seu discurso de política geral, as suas decisões orçamentais e a sua ação. Apelaremos para que as grandes emergências dos franceses, o poder de compra, a segurança, a imigração, sejam finalmente resolvidas, e reservamos quaisquer meios de ação política se este não for o caso nas próximas semanas”, indicou o líder do RN, Jordan Bardella, no X. Já Marine Le Pen disse que Barnier cumpre um dos principais requisitos do partido, que era respeitar as diferentes forças políticas e ser capaz de dialogar com o RN.
“Macron roubou a eleição ao povo francês”, disse Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa (LFI), o maior partido da aliança Nova Frente Popular (NFP). E acusou o presidente de ter um acordo secreto com a extrema-direita. “Este é um governo de Macron e de Le Pen. Eles já se comprometeram a aceitar o orçamento, preparado nas sombras pelos ministros demissionários”, denunciou, apelando os franceses a saírem à rua em protesto este sábado.
O Partido Socialista, que também faz parte da NFP, anunciou a decisão de pedir a censura de Barnier. Apesar de a nomeação de um primeiro-ministro ser da exclusiva responsabilidade do presidente, os deputados podem escolher censurar o executivo. A aliança de esquerda tem 193 deputados na Assembleia, longe dos 289 da maioria absoluta que precisa para fazer cair o governo.
Essa maioria é contudo possível se os 126 deputados do RN decidirem votar ao lado da esquerda. Ou se alguns dos partidos do bloco presidencial ou da direita quiserem surpreender. O próprio Renascimento, de Macron, disse no X que não votará pela “censura automática” contra o novo governo, mas fará “exigências substanciais” e não assinará um “cheque em branco” a Barnier.